
Os judeus passaram por várias diásporas, expulsões forçadas pelo mundo. A justificativa estaria em desobedecerem a voz de Iahweh: “Iahweh te entregará, já vencido, aos teus inimigos: sairás ao encontro deles por um caminho, e por sete caminhos deles fugirás!” (Deuteronômio 28, 25).
Talvez a primeira diáspora tenha sido a expulsão de Eva e Adão do Paraíso: “Ele (Iahweh) baniu o homem e colocou, diante do jardim de Éden, os querubins e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da árvore da vida.” (Gênesis 3, 24).
Lá adiante, Abraão (teria vivido entre os séculos XXI e XVIII a.C.) abandonou Ur (na Caldéia), onde morava, e, por indicação de Iahweh dirigiu-se a Canaã (Palestina).
Teria havido uma escassez de alimento em toda Canaã, por volta de 1700 a.C., e os hebreus (talvez não todas as tribos) decidiram ir para o Egito, então sob administração dos hicsos, um grupo de povos também de origem semita.
Os hebreus se deram bem lá, até os egípcios expulsarem os hicsos (talvez por volta do século 16 a.C.), quando foram escravizados. Sua libertação ocorreria com Moisés, por volta de 1300 a.C.
Séculos depois, em 722 a.C., dez tribos de Israel são enviadas à Assíria, como cativas. O reino de Judá não foi escravizado – pagando altos impostos.
Porém, em 586 a.C., não teve conversa: os babilônios (Nabucodonosor II) destruíram Jerusalém e deportaram os judeus para a Mesopotâmia.
Em 70 d.C., foi a vez dos romanos destruírem Jerusalém: nova diáspora.
Outra grande expulsão se deu em 1492, quando os reis Católicos colocaram um fim à presença de cerca de 15 séculos dos judeus na Península Ibérica (Portugal faria isso em 1497).
Durante a dominação mulçumana na Península Ibérica houve a chamada “idade de ouro” da cultura judaica, entre os séculos XI e XII, com o surgimento de sábios judeus, a partir da tolerância islâmica.
Entre os expulsos de Portugal e os “convertidos” (cristãos-novos) estavam os ascendentes do poeta Fernando Pessoa.
Ele descreve seu heterônimo Álvaro de Campos, o que talvez melhor o represente, como “entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português (…)”
Álvaro, assim como os criptojudeus, carregava uma angustia de não pertencer a lugar nenhum, mas ao mesmo tempo, a todos os lugares.
A FRESCURA (Álvaro de Campos)
Ah a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros,
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
E tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora…
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte… Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.