Angústia de não pertencer a lugar nenhum, mas ao mesmo tempo, a todos os lugares

Os judeus passaram por várias diásporas, expulsões forçadas pelo mundo. A justificativa estaria em desobedecerem a voz de Iahweh: “Iahweh te entregará, já vencido, aos teus inimigos: sairás ao encontro deles por um caminho, e por sete caminhos deles fugirás!” (Deuteronômio 28, 25). Talvez a primeira diáspora tenha sido a expulsão de Eva e AdãoContinuar lendo “Angústia de não pertencer a lugar nenhum, mas ao mesmo tempo, a todos os lugares”

“Por mais bela que seja cada coisa/ Tem um monstro em si suspenso”

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto, Portugal, em 1919 e viveu até 2004. QUANDO (Sophia de Mello Breyner) Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta Continuará o jardim, o céu e o mar, E como hoje igualmente hão-de bailar As quatro estações à minha porta. Outros em Abril passarão no pomarContinuar lendo ““Por mais bela que seja cada coisa/ Tem um monstro em si suspenso””

Cidades sonhadas

“A cidade não é feita disso, mas das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado. (…) Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nosContinuar lendo “Cidades sonhadas”

A dor

Algofobia, o medo da sensação de dor. A dor não é apenas assunto médico, também é sociológico. Nossa tolerância à dor tem diminuído rapidamente. Essa angústia tem por consequência uma “anestesia permanente”, diz Byung-Chul Han. Toda condição dolorosa é evitada, inclusive as “dores de amor”. O amor deixa de ser uma entrega total; há umContinuar lendo “A dor”

“A marca que deixaste”

Poemas de IZUMI SHIKIBU (tradução de Luísa Freire) Se o cavalo dele tivesse sido domado pela minha mão – eu tê-lo-ia ensinado a não seguir mais ninguém.   Mesmo quando um rio de lágrimas atravessa e molha este corpo, não chega para apagar todo o fogo do amor.   Porque não terei pensado nisto jáContinuar lendo ““A marca que deixaste””

Como fazer o bem?

O regime de servidão foi regra na Rússia czarista de 1649 até 1861. Servidão é um eufemismo para escravidão dos próprios conterrâneos: os camponeses (“mujiques“) eram obrigados a permanecer nas terras onde nasciam, sem direito à sua propriedade, que era dos nobres. Esses camponeses eram, também, propriedades dos aristocratas, que poderiam dispor deles da formaContinuar lendo “Como fazer o bem?”

Os rinocerontes estão à solta

Em 1959, Eugène Ionesco (1909-1994) publicou a peça O Rinoceronte, um marco do Teatro do Absurdo, uma antecipação da realidade que vivemos. A peça trata de uma epidemia de “rinocerontismo” que ataca a cidade: de repente, as pessoas começam a virar rinocerontes. Bérenger, um personagem, se recusa a ceder à onda que acomete a todosContinuar lendo “Os rinocerontes estão à solta”

O coração que treme diante do sofrimento

OS OLHOS DOS POBRES (Charles Baudelaire) “Ah! Você quer saber por que eu a odeio hoje. Será, certamente, menos fácil para você compreender do que para mim, explicar; porque você é, creio, o mais belo exemplo da impermeabilidade feminina que se possa encontrar. Tínhamos passado juntos um longo dia que me parecera curto. Nós nosContinuar lendo “O coração que treme diante do sofrimento”

Só temos que nos aturar e respeitar

Este é o milésimo artigo que publico no site Balaio Caótico! Desde que criei o blog, por estímulo de amigos, em junho de 2020, publiquei uma média de 1,2 textos por dia! Não é normal, reconheço, mas foi uma ótima experiência que vivi, principalmente durante a fase crítica da pandemia. Os incautos que me leem,Continuar lendo “Só temos que nos aturar e respeitar”

A pós-modernidade ainda representa nosso tempo?

A partir dos anos 1840, Charles Baudelaire identificava o que viria a ser reconhecido como Modernismo, ao destacar a atividade de Constantin Guys, como jornalista e ilustrador. Nascia a ideia de que a modernidade seria a reunião do eterno e do transitório, revelando um interesse especial na moda e sua relação com a beleza, comContinuar lendo “A pós-modernidade ainda representa nosso tempo?”