Pós-verdades e a estupidez

“Não contente em gerar a infelicidade alheia, o estúpido inoportuno ficará contente consigo mesmo. Inabalável. Imune à hesitação. Certo de estar no seu direito.

O imbecil feliz não se importa em perturbar os outros.

O estúpido considera suas crenças como verdades gravadas em mármore, embora todo o saber esteja alicerçado na areia.

A dúvida enlouquece, a certeza estupidifica, é preciso escolher um lado.

O estúpido sabe mais que todo mundo, inclusive o que se deve pensar, sentir, expressar e como se deve votar.” (Jean-François Marmion)

No ano passado abordei “As leis fundamentais da estupidez humana”, conforme Carlo Cipolla (texto anexo).

Agora, exploro rapidamente o livro coordenado por Jean-François Marmion, “A Psicologia da Estupidez”. Esse é um assunto que continuará na pauta devido ao alastramento da babaquice e seus impactos na vida dos ainda não contaminados.

Temos uma guerra absurda contra a Ucrânia e outras que não recebem destaques, a destruição metódica do meio ambiente, uma economia que só dá lucros para poucos, a ameaça orquestrada às democracias, o crescimento da fome, a hostilidade às opções de gênero e às raças não hegemônicas, dentre outras questões importantes.

Entretanto, pessoas aparentemente instruídas, que navegam bem nas redes sociais e saberiam pesquisar utilizando-se de mecanismos de busca, rejeitam a ciência (principalmente sobre clima e vacinas), aceitam teorias da conspiração e ficam furiosos com os que discordam de suas certezas.

É difícil explicar.

Essas pessoas, ao invés de questionarem seus “pontos de vista” e procurarem um posicionamento mais adequado às transformações em curso, fecham-se e atacam os que são vistos como estranhos (inimigos): as esquerdas (por sua natural transgressão do tradicional), a globalização e seus supostos ícones, o meio cultural … qualquer um que não se alinhe. É como se houvessem complôs para desmantelar a sociedade, seus valores e crenças.

Sabemos que ignorância não é o mesmo que estupidez. O estúpido sabe que há outras “verdades”, mas as considera infames.

O que “pensa” essa corrente de estupidez é chamado de “bullshit” por Harry Frankfurt.

Para Frankfurt, ao contrário do mentiroso, que precisa sempre se manter de olho na verdade para modificá-la ou dissimulá-la, o bullshitter não está nem aí para ela. Ele a pisa, tergiversa, zomba, engabela, muda de assunto; apela ao obscurantismo, a meias palavras, descontextualiza, acusa o inimigo daquilo que é acusado …

E, o público para esses mistificadores, criadores de fake news (intitulam como pós-verdade), é fiel e receptivo. Não para aí. Dissemina o que lhe vicia, suas verdades.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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