A vida tem ou faz sentido?

Para os existencialistas a vida seria um absurdo.

Albert Camus, por exemplo, achava que não haveria valores universais, nem plano divino; tudo seria aleatório. Apesar de nossa racionalidade clamar por ordem e clareza que dêem um significado à nossa existência, o mundo que nos rodeia é indiferente e irracional. Hoje diríamos que ele é movido pela complexidade, que não mostra “razões” que nossa lógica linear reconheça imediatamente. Isso lhe parecia absurdo.

Isso não lhe parecia ruim; seria um estímulo para que vivêssemos intensamente esta vida, finita e sem sentido aparente. Viver no momento presente com plena consciência.

Mas, ele não era niilista, pois via a possibilidade de dar sentido à vida e de o construir a partir da ação.

Como não podemos entender racionalmente o porquê de nossas vidas, buscamos explicações externas para nos apegarmos, algo que nos dê motivos para prosseguirmos diante do desconhecido, pensava Kierkegaard.

A surpresa, o novo, o diferente, são incômodos para a maioria. Então, se fortalece a busca pelo normal, regular, tradicional. Normose! A anulação voluntária de características individuais que contrariem a aceitação pelos outros.

O medo como gatilho. Medo que é trabalhado por políticos e elites para manter a população obediente e ordeira, sem contestações.

Entendo que o futuro não pode ser visto como intimidante, só desafiador.

O temor ao diferente é mais forte entre os que julgam estar ascendendo socialmente (classe média) e entre os religiosos, que vêem os textos sagrados como guias indiscutíveis, interpretados por intermediários do divino. Estes sabem que a arrogância é aliada da ignorância.

Há uma corrente liberal (não no sentido econômico) que vê a pluralidade como intrinsicamente benéfica e o conflito entre valores morais como revigorante. Os conservadores a contestam.

A figura da “autoridade”, política ou religiosa, encarrega-se de manter o controle social, fazendo com que passemos a crer em símbolos, sem necessidade de qualquer prova de racionalidade. É uma forma de se fugir do absurdo da vida, aceitando-se o absurdo alheio. Tudo para aniquilar a desesperança.

T. S. Eliot ouviu de um taxista que este, certa vez, reconheceu Bertrand Russell e lhe perguntou qual o sentido de tudo, mas ele não teve resposta.

Costumamos só formular problemas para os quais somos capazes de responder, dizia Marx. Portanto, questões como essa referente ao sentido da vida não são normalmente colocadas, salvo por quem já tem uma resposta – que alguém definiu.

Nietzsche, quando jovem, escreveu que o verdadeiro sentido da vida é terrível demais para que possamos aceitá-lo, o que explicaria as ilusões das quais necessitamos para continuar vivendo. O que chamamos de “vida” é apenas uma ficção necessária; sem uma boa dose de fantasia, a realidade seria impalatável.

Algo como Maya, o conceito da ilusão que constituiria a natureza do universo – o principal obstáculo para o desapego das seduções do mundo sensorial -, na tradição de religiões orientais.

Se um Deus nos criou, possivelmente o fez não por necessidade. Talvez por senso de humor. Ele passaria muito bem sem nossa presença e, teria Ele uma vida mais tranquila. Nada o impede, entretanto, de se arrepender dessa decisão.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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