
O Positivismo influenciou, em parte, a Proclamação da República.
Pouco falado é que os principais líderes do chamado Apostolado Positivista do Brasil imaginavam, de acordo com seus princípios, uma república ditatorial, enquanto os verdadeiros republicanos defendiam uma democracia liberal.
A palavra ditadura, segundo Pedro Laffitte, que sucedeu Auguste Comte, “não dá de modo nenhum o sentido de poder pessoal absoluto que se lhe atribui'”.
Comte teria usado esta expressão para referir-se à ditadura romana, em que alguém ascendia ao poder para enfrentar uma situação socialmente excepcional, que requereria uma transitória concentração de autoridade. Deveria ser consentida e legítima.
Conceito perigoso. E isso era ensinado na Escola Militar. Não sei ainda o é.
O principal propagador do Positivismo entre os militares foi Benjamin Constant, embora ele fosse mais adepto do Positivismo religioso. Comte, lembrando, fundou a Sociologia, além da filosofia Positivista e, uma religião.
A classe média que surgiu após a riqueza do café “tomou conhecimento, pela primeira vez do que fosse progresso moderno e uma certa riqueza e bem-estar material”, registrou Caio Prado Júnior.
Começaram a reclamar por uma voz na política, contra a classe dominante, a dos senhores de terra e de escravos.
Era esse o clima para a irrupção da República: descontentamento dos donos de escravos após a abolição; ideias republicanas vindo da França e dos EUA; a questão religiosa (querelas entre bispos e maçons); desentendimentos entre o governo Imperial (nobres) e militares (o próprio imperador não tinha grande apreço pelos militares); os protestos contra a “ditadura” do Poder Moderador, símbolo do regime monárquico; e, antipatia contra um Terceiro Reinado (que seria governado por uma mulher beata, submissa aos padres e casada com um estrangeiro).
O povo, como sempre, não pesava na política. Só a classe média ansiava alguma fatia do poder, mas so o poderia fazer com apoio do Exército, composto por originários da classe média.
Então, surge a República, mais por fraqueza do regime monárquico do que por vigor republicano.
O lema positivista (“O amor por princípio e a ordem por base, o progresso por fim”) foi amputado, deixando o princípio do amor de lado (amor e militar não combinam); a tentação do Poder Moderador foi assimilada pelos “garantidores” do processo e, a ambiguidade da palavra “ditadura” tende a prevalecer.
Atualmente, a principal característica do Positivismo também tem sido abandonada: “O entendimento, em filosofia, de que o mundo existe e funciona segundo leis naturais que lhe são inerentes, e não segundo a intervenção de seres sobrenaturais (deuses) nem de energias, espíritos ou forças igualmente sobrenaturais. O reconhecimento das leis naturais permite a previsão dos fenômenos e, em certa medida, a intervenção neles.”
Comte, um pioneiro filósofo da ciência, ficaria decepcionado com a deturpação de suas ideias e o proeminência do negacionismo.
Outros princípios também foram abalados:
– entendimento, em moral, de que o altruísmo, vale dizer, o sentimento e a prática do bem, é preferível ao egoísmo sob qualquer das suas manifestações.
– entendimento, em política, de que o governo deve limitar-se a atuar sobre as coisas, sem interferir nos pensamentos, ou seja, deve ocupar-se da administração da vida material da coletividade e abster-se de ingerir-se no que se relacione com as convicções das pessoas. O Estado deve ser laico, neutro em matéria de religião e de doutrinas.
Para as mulheres, o Positivismo não era nada positivo: era misógino e conservador. Comte dizia que a mulher deveria se dedicar só à família, como objeto de “culto doméstico” por parte do marido.
Benjamin Constant, por exemplo, tentaria revogar o direito da mulher estudar!