
A COP 26 acabou, naturalmente, com muito blá e poucos avanços reais. Até o governo brasileiro assinou compromissos para inglês ver. “Ação fala mais alto do que palavras”.
O Brasil tem uma avenida de oportunidades à sua frente, a bioeconomia. Não dá para ficar esperançoso, porque não é a primeira vez que fechamos as portas – e janelas – de oportunidades.
Às vezes acho mesmo que “o Brasil ‘nasceu’ quando o Sol estava na casa 8”, o que significa “crise”, segundo alguns astrólogos.
Esqueçamos esse pessimismo histórico por ora. Quem sabe? Talvez esse país esteja condenado a dar certo, depois de muitas voltas; se quiser.
Por nossa incompetência ou inapetência, perdemos o bonde da revolução industrial e não conseguimos destruir todas as nossas florestas – só as litorâneas foram derrubadas para dar lugar a habitações e favelas.
Só agora estamos correndo atrás da profecia de Alexandre Humboldt, de que a Amazônia seria “o celeiro do mundo”. Porém, graças a nosso atraso atávico, ainda há muito da floresta, apesar do esforço atual para sua devastação.
Podemos continuar sendo protagonistas como provedores de proteínas animal para o mundo, simplesmente usando os atuais 171 milhões de hectares de pastagens – 20% do nosso território.
50% dessa área estão degradadas! Neste pasto degradado, em cada hectare, 1 cabeça de gado engorda 50 kg por ano; num pasto recuperado, no mesmo hectare, alimentam-se 5 cabeças e 500 quilos! Parece óbvio o retorno econômico.
Se quisermos cumprir a meta de redução de metano, de até 30% até 2030, que nos comprometemos nesta COP26, há muitas alternativas, praticamente com vantagens econômicas.
Há como atuarmos sobre o metano gerado em aterros sanitários, queimando-o e produzindo energia elétrica.
Sobre o metano produzido por nosso gigantesco rebanho (218 milhões de cabeças, uma para cada brasileiro – mas que não chega às suas mesas nem com embargo da China!), há várias técnicas – algumas novas, outras não, como o melhoramento genético, nutrição animal e manejo de pastagens. Essas técnicas reduzem o tempo de abate dos coitados, que hoje passam até 4 anos ruminando no pasto, jogando metano no ar.
As novas técnicas – em estudo – implicam em novas dietas com aditivos alimentares.
Embora haja uma absurda concentração de terras no país (não é novidade, mas das cercas de 6 milhões de propriedades rurais no Brasil, 2% delas respondem por 71% do valor bruto de produção), há empreendedores rurais muito conscientes e inovadores.
Vejam a crescente prática da ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), produção integrada de grãos, carnes e madeiras simultaneamente, no mesmo espaço, que proporciona a captura de carbono pelas árvores, o que atenua a emissão de metano pelo gado.
Sobre a utilização do etanol como forma ‘inteligente’ de motorização, deixo o convencimento ao amigo especialista Gonçalo Pereira.
Prestem atenção ao potencial energético dos nossos subprodutos, a biomassa. Os bagaços, as palhas e caroços podem gerar tanta riqueza quanto seus produtos originais. Afora, o lixo e o lodo de estações de tratamento de esgoto.
A produção de etanol de segunda geração (2G), a partir da biomassa da cana-de-açúcar é um exemplo bem sucedido. Alavanca a produção de etanol sem expandir a área de cultivo de cana. E, ao gerar lignina, aumenta a eficiência da cogeração de energia.
Os resíduos do milho (cerca de 46 milhões de toneladas por ano) poderiam produzir quase 5 bilhões de litros de etanol 2G!
O que sobra da mandioca pode ser transformado em xaropes de glicose, que podem, também, virar etanol ou glutamato monossódico e outros aminoácidos e adoçantes.
O bagaço de laranjas é rico em fibra pectina, usada na indústria alimentícia e, em terpeno limoneno, usado como solvente biodegradável ou componente aromático.
O açaí, do qual se aproveitam ao redor de 15% (a polpa), gera um problema ambiental com as sementes (85%). Mas, essas sementes são ricas em polissacarídeo manana, que pode ser processada para aplicações nas indústrias farmacêuticas, de cosméticos e de alimentos.
Algumas dessas biomassas podem gerar prebióticos (que estimulam a proliferação de populações de bactérias desejáveis, promovendo o equilíbrio da microbiota do intestino).
Há muitas oportunidades para fins industriais da biomassa. Uma delas pode ser a geração de H2 (hidrogênio).
Atualmente, 70% do H2 produzidos mundialmente é de origem de fontes fósseis. Ele pode ser gerado por via biológica, a partir de resíduos e efluentes agroindustriais, por exemplo.
Ou seja, há várias alternativas de uso da biomassa, além da produção de vapor e eletricidade.
A economia verde pode nos colocar nos trilhos do desenvolvimento e, não dependemos dos governos de plantão, só das iniciativas empresariais consorciadas com as universidades.
O Brasil é sem dúvida uma grande potência mundial. Ideias, meios, ideais, condições favoráveis, tudo nós temos. Quem sabe nos esteja faltando valores éticos e morais para atingirmos a condição de seres humanos preparados para um mundo melhor.
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