
O português Vergílio Ferreira morreu em 1996, aos 80 anos. Foi romancista, ensaísta e contista.
Sua obra trata do sentido da vida, o mistério da existência, o nascimento e a morte: os questionamentos da condição humana.
Para ele, “a estrutura do que somos não muda com a idade. Apenas, como na música, somo-lo noutro tom. E, adquirimos novas perspectivas: quando começamos a envelhecer passamos a ver longe o que está perto, enquanto que, quando jovens, procuramos ver perto o que está longe.”
Na vida, o que mais custa a suportar – dizia – “não é a derrota ou o triunfo, mas o tédio, o fastio, o cansaço, o desencorajamento. Vencer ou ser vencido não é um limite; o limite é estar farto”.
De fato, que brilho tem a vida se nós não a iluminarmos com nossas próprias velas? Seguir a luz que outros lançam sobre objetos, acontecimentos e aspirações pode nos ajudar na caminhada, mas sejamos consciente que agimos como satélites.
Se, ao olhar para trás e nada de significativo encontrar não reclame, sequer do tempo. Para poucas realizações, das quais poderíamos nos orgulhar, não é que o tempo passou rapidamente; nosso vazio não poderia deixar outros registros.
“O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou.”
Ele ressaltava a criação de um tempo espesso e único, em que se fundiriam passado, presente e futuro na revelação de apenas um presente contínuo, num estar-a-ser que se agarra simbioticamente a um vir-a-ser.
Cabe só a nós refletir constantemente sobre nossos atos, pensamentos, sentimentos e sensações, afim de encontrarmos novas dimensões nas coisas, alterando o sentido que temos do que seja “real”.
“Porque só o ilimitado é o LIMITE de todos os limites; só o silêncio é a VOZ.”
“E é em face da surpresa de nossos gestos ocos, da nossa pobre mecânica de gestos automáticos, que o grave problema de nossa unidade se põe para aqueles que a não estabelecem precisamente numa unidade de gestos.
Ser homem é difícil. Tão difícil talvez, como é fácil parecê-lo. Porque a grande testemunha que pode decidir de sê-lo, somos nós próprios depois de reconhecidos, para nós mesmos, até os limites do que somos – aí, donde a Verdade aparece”.