
Paul Valéry (1871-1945) foi poeta, ensaísta e pensador.
Em 1892, ao visitar parentes em Gênova, Valéry passou por uma profunda transformação pessoal. Durante uma violenta tempestade, ele determinou que deveria se libertar “custe o que custar, dessas falsidades: literatura e sentimento”.
Dedicou os vinte anos seguintes a estudar matemática, filosofia e linguagem. Até 1912, ele não escreveu nenhuma poesia. Ele começou, no entanto, a manter suas ideias e notas em uma série de diários, que foram publicados em 29 volumes em 1945.
“Não se esqueça de que toda mente é moldada pelas experiências mais banais.
Dizer que um fato é ‘banal’ é dizer que é um daqueles que mais concorreram para a formação das tuas ideias essenciais. Ele entra na composição da tua substância mental mais do que 99% das imagens e das impressões sem valor. E acrescenta que as vistas estranhas, os pensamentos novos e singulares tiram todo seu valor desse fundo vulgar que os ressalta.”
“Há em nós certezas inexplicáveis e dúvidas sem causa, o que produz místicos e filósofos. Como nada consegue explicar as primeiras nem justificar as segundas, somos levados a pensar que, em um milhão de homens, dúvidas e certezas estão distribuídas como ‘ao acaso’ …”
“O objeto próprio, único e perpétuo do pensamento é: aquilo que não existe.
Aquilo que não está diante de mim; aquilo que foi; aquilo que será; aquilo que é possível; aquilo que é impossível.
Às vezes esse pensamento tende a realizar , a elevar ao verdadeiro aquilo que não existe; e às vezes a tornar falso aquilo que existe.”
“Notei que, entre os partidários e os adversários de uma tese qualquer (e que por ela são unidos), a grande maioria se compõe de pessoas que não a conhecem realmente.
Também reparei que aquilo que chamamos de ‘convicção’ não passa da falsa atitude enérgica exigida pela consistência frágil própria de uma opinião. Toda a força colocada na forma – mesmo interior – é sinal de dúvidas voluntariamente reprimidas.
Enfim, quando se diz que uma teoria ‘consegue se sustentar’, não se está dizendo que ela precisa de ‘alguém’ que a sustente? Por si própria, ela cai, e que caia.”
“O universo era um Todo, e tinha um centro./ Não há mais Todo nem centro./ Porém, continuamos falando em Universo.”
“Convenções. Umas fazem com que aquilo que não existe exista, e outras, que aquilo que existe não exista. As segundas, porém, mais raras e mais penosas do que as primeiras.
Assim, é mais fácil fazer crescer o mundo exterior, acrescentar-lhe seres e relações, do que negá-lo. Mais fácil crer que existem coisas além das paredes do meu quarto do que negar meu quarto, fechando os olhos.”