
Capistrano de Abreu (1853-1927) era cearense e foi viver, às próprias custas, no Rio, aos 21 anos.
Ao envelhecer, assistia a uma profunda crise dos valores e da linguagem pública.
Comungava com José Bonifácio, que morrera em 1838, um amargor pela condução do país.
Para Bonifácio, “no Brasil, o real vai além do possível.”
“Esqueça os políticos … nenhum será capaz de endireitar o Brasil, nenhum de metê-lo a pique de uma vez.”
“O jaburu é a ave que para mim simboliza nossa terra. Tem estatura avantajada, pernas grossas, asas fornidas, e passa os dias com uma perna cruzada na outra, triste, triste, daquela austera, apagada e vil tristeza.” (José Bonifácio)
Capistrano não teve facilidades na vida. Tornou-se historiador pela via do autodidatismo, tendo se dedicado fervorosamente ao estudo de línguas e aprendido apenas com o auxílio dos dicionários o inglês, o francês, o alemão, o italiano, o holandês e até mesmo o sueco. Chegou, também, a publicar um livro sobre as línguas dos índios Kaxinauás e Bacaeris.
A maior crítica que se faz a Capistrano é que ele não foi o historiador que poderia ter sido, por não escrever uma ambiciosa história do Brasil.
Além das dificuldades para manter-se (foi socorrido financeiramente em algumas oportunidades por seu amigo e admirador, Paulo Prado), a vida lhe deu uns golpes: a esposa e o filho morreram prematuramente e a filha optou pela reclusão do convento. E, sofria de gota.
“Cada ano que passa é uma parede que cai e hesito se é melhor morrer ou ver morrer, que é afinal no que se resume a vida.
A perda por morte é uma mutilação. Quanta coisa já está morta para mim …
Os jesuítas tinham razão: nada de amigos íntimos.”