
“A terra em si, Senhor excelentíssimo, é um paraíso; aqui mesmo são tantas as produções que eu não sei a que lado me volte,” (Alexandre Rodrigues Ferreira, 1783)
Quando foi ‘descoberto’, o Brasil não era o Brasil, claro. Era uma grande porção de terra com grande potencial exploratório. Até hoje.
A descoberta foi, oficialmente, atribuída a Pedro Álvares Cabral. Mas, contrariando os livros de história, o Brasil foi descoberto pelo espanhol Vicente Yáñez Pinzón, que chegou à costa de Pernambuco (em Cabo de Santo Agostinho) em janeiro de 1500. Não pôde, entretanto, reclamar o território para a coroa da Espanha graças ao Tratado de Tordesilhas.
Para os que não gostam de espanhóis, há um relato de que outros portugueses tenham pisado por aqui antes. Duarte Pacheco Pereira, cosmógrafo da Corte Portuguesa, dedicou a D. Manuel I, seu manuscrito ‘Esmeraldo de Situ Orbis‘, que o engavetou: tinha informações sigilosas. Se Duarte Pereira não se confundiu com as datas, houve navegações ao Brasil anteriores à de Cabral.
Sobre o Brasil, há o seguinte relato:
“(…) e portanto, bemaventurado Príncipe, temos sabido e visto como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos Vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar oceano, onde é achada e navegada uma tão grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela, que se estende a setenta graus graus de ladeza da linha equinocial contra o polo ártico e, posto que seja assaz fora, é grandemente povoada, e do mesmo círculo equinocial torna outra vez e vai além em vinte e oito graus e meio de ladeza contra o polo antártico, e tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma parte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela … […]; e indo por esta costa sobredita, do mesmo círculo equinocial em diante, per vinte e oito graus de ladeza, contra o polo antártico, é achado nela muito e fino brasil com muitas outras coisas que os navios nestes reinos vêm grandemente carregados (…)”
O ‘Brasil’ não despertou o interesse imediato de D. Manuel. Seus interesses estavam no comércio com o Oriente: em 1502, copiando o sistema anteriormente adotado na costa ocidental da África, a terra foi arrendada a uma associação de mercadores. Em 1504, a monarquia portuguesa fazia sua primeira doação por aqui, concedendo, pelo prazo de duas vidas, a capitania da ilha de São João a Fernão de Noronha.
Nos 20 primeiros anos de vida do futuro Brasil, os portugueses criaram apenas duas feitorias: em 1504, em Cabo Frio; em 1516, em Pernambuco.
Para os portugueses, o Brasil estava reservado para o futuro.
“Talvez não seja exagerado dizer terem sido os franceses que decidiram a sorte das terras achadas por Cabral. Não fosse sua presença constante no litoral norte durante todo o primeiro quartel do século, e não fosse, muito depois, em 1555, o seu empenho em fundar uma colônia na baía de Guanabara e, talvez, o interesse português pelo Atlântico Sul ficasse adormecido por mais tempo.” (Laura de Mello e Souza)
Os franceses acordaram o Brasil.
O ‘espaço vazio’ começou a ser ocupado. Vazio, apesar da existência de cerca de 2,5 milhões de índios. Mão-de-obra.