
Bruno Latour, filósofo, sociólogo e antropólogo francês, vem procurando alertar sobre a “Nova História”, que se iniciou quando se supôs o “fim da história”.
Essa nova história se apoia na “desregulamentação”, nas porteiras abertas para a globalização, ou seja, o domínio das grandes corporações – através de governos populistas títeres -, tendo como imediata consequência a violenta explosão da desigualdade.
Nessa mesma época também começa a sistemática operação para a negação da existência da mutação climática. Ele não gosta da expressão ‘crise ecológica’, pois crise dá a impressão que o problema vai passar.
Ele desconfia que “as elites” concluíram que não há mais lugar suficiente na terra para elas e o “resto” de seus habitantes. Decidiram acabar com o fingimento de que a ‘história’ continuaria conduzindo a todos a um horizonte comum, no qual “todos os homens” poderiam prosperar (e serem felizes). Isso explica porque os EUA saíram do acordo de Paris.
“A ausência de um ‘mundo comum’ a compartilhar está nos enlouquecendo.”
Para ele, entramos num Novo Regime Climático, que deve ser compreendido junto com a explosão da desigualdade e o desejo de um “retorno” às velhas proteções do Estado nacional, traduzido em muitos lugares como ‘populismo’.
Em 2015, quando o acordo sobre o clima foi firmado na COP21, “os países signatários, ao mesmo tempo em que aplaudiam o sucesso do improvável acordo, davam-se conta, horrorizados, de que se todos avançassem conforme as previsões de seus respectivos planos de modernização, não existiria planeta compatível com suas expectativas de desenvolvimento. Iriam precisar de vários planetas, e eles só têm um.”
O apelo às religiões salvacionistas também se encaixa nessa lógica: para as massas, o céu, o paraíso – desde que não se incomodem com a crescente desigualdade.
“COM AS MASSAS TUDO,
SEM AS MASSAS NADA.
OU AMASSAS TUDO,
OU NÃO AMASSAS NADA.” (Samaral, 1948-1998)
Há várias saídas para esse dilema, sabemos, mas poucos líderes terão estatura para persegui-las. A grande maioria irá para o negacionismo como forma de escapismo da realidade.
Ao invés da polarização esquerda-direita, recomenda uma mudança de horizonte, o “polo terrestre”, como uma espécie de terceira via. Abarcar “pontos de vida” e não apenas pontos de vista.
“Abarcar pontos de vida…” Me parece um bom caminho.
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