
“Os cabelos muito brancos. Magra. Feia. Triste. Sempre com lágrimas nos olhos. Sempre com estas palavras na boca: – Deus te ajude.
Para os pequenos: Sia Isabel. Para os grandes: Bebê Chorona.
Bebê Chorona, que sabia contar histórias, me ensinou, um dia, a origem da chuva. Aprendi que São Pedro manda os anjos, de tempo em tempo, lavar o chão do Castelo Divino, para que esteja sempre digno de ser pisado pelos pés das santas e dos santos.
A todo instante entra gente da Terra no Céu; é essa gente que leva daqui para lá a famosa poeira do caminho da vida, capaz de virar a cabeça dos bem-aventurados.
Durante o serviço dos anjos, São Pedro deixa aberta a porta de que é porteiro, e a água purificadora vai caindo sobre este mundo. É a chuva.
Depois, Bebê Chorona foi dormir num canto do cemitério, com os cabelos mais brancos, a pele mais encarquilhada, sem voz a boca que explicava tantos mistérios. Foi descansar o corpo. A alma partiu num voo só, para o Paraíso.
Bebê Chorona nunca quis casar. Queria bem a todas as crianças. Era magra, magra. Tinha tido bexigas e um desengano de amor.
Quando chove, penso que Bebê Chorona talvez me envie um recado numas gotas de chuva.”
“O meu maior prazer é mudar de opinião. Com esse prazer, vou evitando a velhice.”
Álvaro Moreyra, gaúcho, foi poeta. E jornalista. Sua história acabou em 1964.