“(…)
Quando alguém vai embora, tem de jogar
ao mar o chapéu com as conchas
recolhidas ao longo do verão,
e partir com os cabelos ao vento,
tem de lançar ao mar
a mesa posta para o seu amor,
tem de derramar no mar
o resto de vinho que ficou no copo,
tem de dar aos peixes seu pão
e misturar ao mar uma gota de sangue,
tem de enfiar bem sua faca nas ondas
e afundar seu sapato,
coração, âncora e cruz,
e partir com os cabelos ao vento!
Então ele retornará.
Quando?
Não perguntes.
“Há fogo sob a terra,
e fogo é pureza.
Há fogo sob a terra,
e pedra que não pesa.
Há um fluxo sob a terra,
que em nós nao retesa.
Há um fluxo sob a terra,
e nos ossos, leveza.
Vem aí um grande fogo,
vem aí um fluxo sobre a terra.
Testemunhas seremos, certeza.”
“Abaixo de um céu desconhecido
sombras rosas
sombras
acima de uma terra desconhecida
entre rosas e sombras
numa água desconhecida
minha sombra”
Ingeborg Bachmann, austríaca, viveu entre 1926 e 1973.