“Há muitos anos que os caminhos se arrastavam
Subindo para as montanhas.
Percorriam as florestas perseguindo a distância,
Lentos e longos deslizavam nas planícies.
Passaram chuvas, passaram ventos,
Passaram sombras aladas…
Um dia os aviões surgiram e libertaram a distância,
Os aviões desceram e levaram os caminhos”.
“No tempo dos profetas
Eram eles que prediziam
o que hoje predizem os poetas.”
Joaquim Cardozo, recifense, viveu até 1978. Segundo Niemeyer, era “o brasileiro mais culto que existia”: atuava como engenheiro estrutural, mas também como arquiteto, desenhista, contista, ilustrador, caricaturista, crítico de arte, professor universitário, dramaturgo, tradutor, editor de revistas de arte e, falava 15 idiomas. Foi responsável pelos projetos estruturais dos mais importantes monumentos de Brasília. Aqui, apresento o Joaquim poeta.
“Tarde no Recife.
Da ponte Maurício o céu e a cidade.
Fachada verde do Café Maxime,
Cais do Abacaxi. Gameleiras.
Da torre do Telégrafo Ótico
A voz colorida das bandeiras anuncia
Que vapores entraram no horizonte.
Tanta gente apressada, tanta mulher bonita;
A tagarelice dos bondes e dos automóveis.
Um camelô gritando: – alerta!
Algazarra. Seis horas. Os sinos.
Recife romântico dos crepúsculos das pontes,
Dos longos crepúsculos que assistiram à passagem dos fidalgos holandeses,
Que assistem agora ao movimento das ruas tumultuosas,
Que assistirão mais tarde à passagem dos aviões para as costas do Pacífico;
Recife romântico dos crepúsculos das pontes
E da beleza católica do rio.” (1925)