
O mito de Prometeu indica que, através da técnica os homens podiam conseguir, por conta própria, o que antes teriam que pedir aos deuses. Mas há limites, principalmente éticos.
“O Prometeu ‘definitivamente desacorrentado’, ao qual a ciência confere forças antes inimagináveis e a economia, o impulso infatigável, clama por uma ética que, por meio de freios voluntários, impeça o poder dos homens de se transformar em uma desgraça para eles mesmos.” (Hans Jonas)
Para Hans Jonas, a técnica já foi reconhecida como um tributo determinado pela necessidade e não o caminho para um fim escolhido pela humanidade. A promessa da tecnologia moderna se converteu em ameaça.
“Concebida para a felicidade humana, a submissão da natureza, na sobremedida de seu sucesso, que agora se estende à própria natureza do homem, conduziu ao maior desafio já posto ao ser humano pela sua própria ação.
Nada se equivale no passado ao que o homem é capaz de fazer no presente e se verá impulsionado a seguir fazendo, no exercício irresistível desse seu poder.”
Defende o que chama de ‘ética da responsabilidade‘: a ética tradicional está centrada nos limites do ser humano. A natureza não era objeto da responsabilidade humana, pois cuidava de si mesma.
Kant dizia: “Age de tal maneira que o princípio de tua ação se transforme numa lei universal”.
Jonas propôs: “Age de tal maneira que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autêntica. Não ponhas em perigo a continuidade indefinida da humanidade na Terra.”
Nossa bússola é a previsão do perigo. Somente com a antevisão da desfiguração do homem chegamos ao conceito de homem a ser preservado.
A ética precisa ir além da sagacidade e tornar-se uma ética de respeito, pois não se trata apenas do destino do homem, não apenas de sua sobrevivência física, mas também da integridade de sua essência.
A ética não pode só tratar do ‘ser’, mas também do ‘dever’ – a responsabilidade.
“Em vez de se preocupar com as consequências tardias no destino desconhecido, a ética tradicional concentrou-se na qualidade moral do ato momentâneo em si, no qual o direito do contemporâneo mais próximo tinha de ser observado.
Sob o signo da tecnologia, no entanto, a ética tem a ver com ações que têm uma projeção causal sem precedentes na direção do futuro.
Junte-se a isso a magnitude bruta dos impactos de longo prazo e também, com frequência, a sua irreversibilidade.
Tudo isso desloca a responsabilidade para o centro da ética.”