
Kant provocava: dizia “Sapere aude!” (“ousai saber“), como uma incitação para que procurássemos pensar por nós mesmos e saíssemos de nossas zonas de conforto, buscando o conhecimento e a verdade, embora inatingíveis.
Nos tempos atuais, é cada vez mais necessária essa recomendação. O automatismo, a irreflexão e a servidão intelectual estão se propagando à medida em que a massa crescente de informações torna mais árido o trabalho de filtragem e seleção do que, de fato, poderia nos elevar.
“Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado.
A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo.
O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem.
Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento.
A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.”
Fazia eco a Étienne de La Boétie (1530-1563), que já praguejava contra a servidão política, voluntária:
“(…) gostaria somente de entender como tantos homens, tantos burgos, tantas cidades e tantas nações suportam às vezes um tirano só, que não tem mais poder que o que lhe dão, que só pode prejudicá-los enquanto quiserem suportá-lo, e que só pode fazer-lhes mal se eles preferirem tolerá-lo a contradizê-lo.
Coisa realmente admirável, porém tão comum, que deve causar mais lástima que espanto, ver um milhão de homens servir miseravelmente e dobrar a cabeça sob o jugo, não que sejam obrigados a isso por uma força que se imponha, mas porque ficam fascinados e por assim dizer enfeitiçados somente pelo nome de um, que não deveriam temer, pois ele é um só, nem amar, pois é desumano e cruel com todos.”
(Étienne de La Boétie)