“Os povos não são bestas, que sofrem em silêncio todo o peso que lhe impõe.” (Filipe Patroni)

180 anos da Cabanagem: A luta de ontem e de hoje - Vermelho

A Cabanagem, ou Guerra dos Cabanos, foi uma revolta popular e social ocorrida entre 1835 e 1840, na antiga Província do Grão-Pará, que abrangia os atuais estados do Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia. Os cabanos eram tapuios (índios desgarrados, os vencidos sem tribo), negros fugitivos das senzalas, mestiços e – todos – pobres. A identificá-los apenas a miséria. O ódio, a sede de justiça, os empurrava, oferecendo o peito à morte.

“Chacinaram os que não puderam fugir. Machetes rachavam cabeças. Punhais perfuravam as gargantas e o sangue opressor correu até encharcar o chão. Lutaram corpo a corpo e esganaram o inimigo. Chutaram os mortos; arrancaram os olhos dos moribundos; cuspiram no estertor dos que morriam. Despedaçaram cabeças a pontapés e, com as mãos nuas, escalpelaram os poderosos de ontem. – É morrer matando!” (Julio José Chiavenato)

Ninguém segurava o ódio. O índio que viu sua tribo esfacelada, a mulher sendo violentada por um, cinco, vinte colonizadores; o negro, que apanhou até verter sangue pelos orifícios do corpo, com a pele riscada pela ponta de punhais; o mulato castrado para não olhar para a mulher branca, que lhe enfiaram o cabo do chicote no ânus, para humilhá-lo; todos unidos pela tragédia e pela miséria a que estavam submetidos: esses eram os cabanos.

Sua revolta era incontrolável. Era a cabanagem. A vingança. E ninguém os segurava. Entraram em Belém matando. Os olhos vermelhos, de sangue, coloridos pela degradação de um povo, até então subjugado. Desciam o facão, abriam cabeças, cortavam pescoços, estouravam ventres com a boca do trabuco encostada nas barrigas gordas dos exploradores. Depois, o saque, a destruição.

Nos olhos dos mulatos, dos negros ou dos tapuios, lágrimas de ódio!

A ‘Cabanagem‘, do Grão Pará, não deve ser confundida com a ‘Cabanada’, que quase à mesma época alastrou-se em Pernambuco, Maranhão, Alagoas e Piaui, que lutava para restaurar o trono de Pedro I, que havia sido deposto em 1831. A Cabanada era um movimento conservador, retrógrado. A Cabanagem, não: era revolucionário. Por essa razão, a Cabanagem é esquecida pela historiografia oficial. Foi o único movimento político brasileiro em que os pobres tomam o poder, de fato.

Com a Cabanagem, a ralé, os negros, tapuios, mulatos, cafuzos, além de brancos sem direito à ‘branquitude’, assumem o poder e reinam absolutos, eliminando todas as formas de opressão, sem hierarquia social e sem forças militares (substituídas pelo ‘povo em armas’).

Essa história não é conhecida. As classes dominantes riscam o povo da História.

A repressão foi impiedosa: em 1840, o governo promoveu um extermínio em massa da população paraense. Estima-se que cerca de 30 a 40% da população de cem mil habitantes do Grão-Pará tenha morrido no conflito.

“A Cabanagem era uma guerra de libertação nacional, talvez a maior que o Brasil já conheceu. Custou a vida de de mais de 30 mil pessoas, um quinto ou mais da população da região.” (Márcio Souza)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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