Névoa, seria “a bruma acumulada sobre a bruma”, segundo Jean-Claude Carrière.
A névoa da palavra, expressão original do século XIII cunhada pelo poeta pérsio Mowlânâ (ou Rûmî, um poeta, jurista e teólogo sufi persa do século XIII), se refere àquilo que sobrevoa o existente além do ato da escrita, como uma paisagem diáfana.
Há a preguiça mental, aquela névoa densa que caracteriza o debate econômico brasileiro, no dizer de Monica De Bolle.
“Onde estavam as neblinas de Londres antes que Turner as pintasse?”, perguntou Herbert Simon. Concluiu que “A Natureza , habitualmente imita a arte”, parodiando Borges, para quem “a história é apenas uma cópia da literatura”.
E temos a névoa da modernidade, caracterizada pelo “ambiente saturado por imagens, dominado pelo jogo do brilho e do apagamento, fluxo temporal de aceleração e interrupção, e tendo a nuvem como nossa metáfora mais próxima da condição contemporânea dos espaços” (Rafael Dias)
Guilherme Wisnik, no seu “Dentro do nevoeiro”, fala que “… a poética do informe e a nuvem são expressões potentes da crise contemporânea.”
O nevoeiro que nos cobre é tão tóxico quanto o de Londres de 1952, que matou mais de 12 mil pessoas. Lá foi o carvão; aqui, as cinzas do bom senso.
A fumaça que “esconde” o cenário é a mesma que adormece consciências.
Belo texto meu caro Dorgival.
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