Tua face coroada com sorriso encanta a muitos. Encanta, sim, posto que é como magia. E isso não te é um elogio, tampouco uma crítica. É uma constatação. Tu sorris com os lábios, mas não com os olhos. Eles continuam pálidos, mesmo quando aqueles estão radiantes.
Tuas palavras são como um ímã, atraem a todos ao teu redor. Os sons que emanam da tua boca bailam em notas musicais, como uma sinfonia de Wagner. Porém, tuas frases também são carregadas de um peso dramático. Parecem fazer parte de um roteiro (bem escrito, mas um roteiro).
Só há uma coisa em ti que não parece mentir. Teus olhos. Esse oceano profundo em que tento não me afogar. Fito-os como se estivesse hipnotizado. Mesmo que tudo em ti esteja escuro, eles brilham. “Lucerna corporis tui est oculus tuus”.
No profundo oceano dos teus olhos, há tristeza e alegria, dores e curas, prantos e cantos. Não há precisão ao navegar por eles. Não há bússola que indique o norte. Não há caravela forte o suficiente para resistir às tempestades; mas não há quem não se vislumbre com as doiradas imagens no horizonte.
(Jénerson Alves é jornalista. Texto originalmente publicado no blog Falou&Disse: https://falouedisse.blog.br/?p=15138)
Imagem: Moça com Brinco de Pérola, de Johannes Vermeer.
Que belo texto!!!!. De um lirismo contagiante. Porém altamente paradoxo. O escritor exalta a beleza corporal, ao mesmo tempo, na mesma criatura, não consegue enxergar a beleza da alma. Se fizermos uma análise hoje, quantos seres estão ai no Mundo, por fora de beleza rara, porém, totalmente desprovido de beleza interior. Amei o texto. Muito atual.
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