Dancem, Macacos, Dancem!

Em 2011, Ernest Cline publicou “Jogador Número Um“, que agradou (best-seller) e virou filme. O livro situa-se em 2045, quando o mundo estará insuportável. A dita humanidade passa, então, a maior parte do tempo conectada a uma realidade virtual. O mundo real parece uma distopia e a realidade virtual, uma utopia.

Cline precisou ralar em qualquer ocupação que surgisse antes de ser reconhecido; trabalhou como peixeiro, auxiliar de suporte técnico, atendente de locadoras de vídeo (depois explico rs), cozinheiro … enquanto fazia o que gostava: lia.

O poema abaixo, de 2006, joga um balde de água fria sobre a “excepcionalidade humana” e nosso esforço para dominar a natureza e usá-la para proveito próprio, o que gerou uma cisão irreparável entre o humano e o não-humano.

Dancem, Macacos, Dancem (Ernest Cline)

“Existem bilhões de galáxias no universo avistável e cada uma delas contêm centenas de bilhões de estrelas.

Numa dessas galáxias, na órbita de uma dessas estrelas, encontra-se um pequeno planeta azul e este planeta é habitado por um monte de macacos.

Agora, estes macacos não se vêm como se fossem macacos. Nem sequer se acham animais.

De fato, eles adoram enumerar todas as coisas que eles pensam que os separam dos animais: polegares opostos, autoconsciência …
Eles utilizam palavras como Homo Erectus e Australopithecus.
Tu dizes To-ma-te, eu digo tumate e está tudo bem.
Eles são animais, está bem, são macacos.

Macacos com fibra ótica digital de alta velocidade, mas ainda assim, macacos.
Quer dizer, eles são inteligentes. Temos que dizer isso.

As pirâmides, os arranha céus, os jatos, a Grande Muralha da China…
É tudo muito impressionante para um monte de macacos.
Macacos cujos cérebros evoluíram para um tamanho tão incontrolável que agora é praticamente impossível para eles, estarem felizes por muito tempo.
De fato, eles são os únicos animais que pensam serem felizes.
Todos os outros animais simplesmente o são.


Mas não é assim tão simples para os macacos.
Entenda, os macacos foram amaldiçoados com a consciência.
E então os macacos têm medo e os macacos se preocupam.
Os macacos se preocupam com tudo, mas principalmente com o que os outros macacos pensam.
Porque os macacos querem desesperadamente se relacionar com os outros macacos.
O que é bastante difícil de fazer, porque muitos dos macacos se odeiam.
E é isto que realmente os separa dos outros animais. Estes macacos odeiam.
Eles odeiam os macacos que são diferentes.
Macacos de lugares diferentes.
Macacos que têm uma cor diferente.
Você vê, os macacos sentem-se sós. Todos os 6 bilhões deles.


Alguns dos macacos pagam a outro macaco para ouvir os seus problemas.
Os macacos querem respostas e os macacos sabem que vão morrer.
E então os macacos inventam Deuses e os adoram.
Depois os macacos começam a discutir sobre quem inventou o melhor Deus.


Depois os macacos ficam realmente chateados e é aqui que normalmente decidem
que é uma boa hora para começarem a se matar uns aos outros.
Então os macacos fazem guerras.
Os macacos fazem bombas de hidrogênio.
Os macacos têm todo o seu planeta pronto para explodir.
Os macacos não podem fazer nada em relação a isso.


Alguns macacos tocam para uma multidão de outros macacos.
Os macacos fazem troféus e depois os dão uns aos outros, como se isso significasse alguma coisa.
Alguns dos macacos pensam que têm tudo controlado.
Alguns dos macacos leem Nietzsche.
Os macacos discutem sobre Nietzsche.
Sem sequer considerarem o fato que Nietzsche era apenas outro macaco.


Os macacos fazem planos. Os macacos apaixonam-se.
Os macacos fazem sexo e fazem mais macacos.
Os macacos fazem música e depois os macacos dançam.
Dancem, macacos, dancem!


Os macacos fazem muito barulho. Os macacos têm tanto potencial
Se eles se concentrassem neles próprios…
Os macacos depilam os pelos do seu corpo numa constante negação da sua verdadeira natureza de macaco.
Os macacos constroem ninhos gigantes para macacos e os chamam de “cidades”.
Os macacos desenham imensas linhas imaginárias na Terra.


Os macacos estão ficando sem petróleo que é o que movimenta a sua precária civilização.
Os macacos poluem e violam o seu planeta como se não houvesse amanhã.
Os macacos gostam de fingir que está tudo bem.
Alguns dos macacos acreditam mesmo que todo o universo foi criado em seu beneficio.


Como podemos reparar … existem alguns macacos confusos.
Estes macacos são simultaneamente a mais feia e a mais bonita criatura no planeta.
E os macacos não querem ser macacos.
Querem ser alguma coisa a mais.
Mas não são.”

Tinha planejado escrever sobre Cline, mas o post de Anderson Porto motivou sua antecipação:

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

Um comentário em “Dancem, Macacos, Dancem!

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