Shugendô

O estoicismo é um conjunto de entendimentos e reivindicações éticas e, também, um posicionamento que vê a aceitação como uma forma de se viver melhor. Para Marco Aurélio e outros estoicos, superar o medo, a dor e a raiva implica questionar nossas crenças tradicionais e aceitar as coisas que não podemos mudar e nos expormos ao que tememos.

A aceitação, no estoicismo, requer que vivamos no “presente” e não nos preocupemos com um futuro ou passado que estão fora de nosso controle (assim como o presente!).

“Todo o futuro está na incerteza: viva imediatamente.” (Sêneca)

Como sempre ocorre, essa corrente filosófica está sendo “incorporada” a várias formas de se ganhar dinheiro, como técnicas de autoajuda, terapias comportamentais, atenção plena (Mindfulness), treinamento militar e outras.

No Japão desenvolveu-se o Shugendô, um sincretismo que combina práticas folclóricas primitivas, animismo, xintoísmo, taoísmo e budismo esotérico (Mikkyô, em japonês). Pode ser visto como outra forma de estoicismo, nalguns aspectos.

Shugendô pode ser traduzido como “caminho de poder espiritual pela ascese”. Os adeptos buscam adquirir poderes espirituais (cura, adivinhação …) através de duras práticas ascéticas realizadas nas montanhas: marchas prolongadas, jejuns, retiros em cavernas, meditação sob cachoeiras etc.

Os yamabushi, como são chamados seus praticantes, veem a aceitação de uma maneira mais corporificada, visceral e ambientalmente sintonizada. O que eles vivenciam nas montanhas é mantido em segredo. É como se representasse o tempo antes de nascerem, no útero, um tempo do qual não se lembram.

Por que as montanhas? Elas, no Japão, já foram consideradas como o mundo dos espíritos e das divindades e, onde as almas dos mortos deveriam passar por uma iniciação para seguir adiante.

Mas, também, são vistas como fontes de sabedoria; uma forma de sabedoria que está além do domínio da nossa compreensão, meros mortais. Não pode ser aprendida em livros, conversas, ou palestras. Deve ser experimentada.

Os yamabushi procuram conectar o sagrado com o mundano, aprendendo duras lições de aceitação na natureza e aplicando-as em suas vidas.

Procuram aprender a estar no momento, a solidificar um lugar, uma presença, no mundo.

Curiosamente, no Shugendô não faz sentido manter um diário, com reflexões sobre os problemas cotidianos. Isto porque não escrevemos para o presente, mas para o futuro.

Outro ponto essencial é a morte, que é aceita não como uma ideia, mas como uma realidade material. Preparam-se para ela.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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