
Mary Jane Oliver (1935-2019) foi uma poetisa americana. Atrevo-me a trazer mais alguns de seus poemas.
Nos bosques de Blackwater
Veja, as árvores
estão convertendo
os próprios corpos
em pilares
de luz,
e exalando uma forte
fragrância de canela
e contentamento,
as longas velas
de taboas
explodem e flutuam sobre
as orlas azuis
das lagoas,
e cada lagoa,
não importa qual seja seu
nome, é
sem nome agora.
Todos os anos
tudo o que já
aprendi
em minha vida
me leva de volta a isto: os incêndios
e o rio negro de perda
em cuja outra margem
se encontra a salvação,
e cujo significado
nenhum de nós jamais saberá.
Para viver neste mundo
você deve ser capaz
de fazer três coisas:
amar o que é mortal;
para segurá-lo
contra o peito, sabendo
que sua própria vida depende disso;
e, quando chegar a hora de deixá-lo ir,
deixá-lo ir.
(Tradução de Nelson Santander)
O mundo em que vivo
Recusei-me a viver/ fechada na bem-composta casa das razões e das provas./ O mundo em que vivo e creio/ é mais amplo. De qualquer forma, o que há de errado com “Talvez”?
Não acreditarias no que, vez ou outra, tenho visto. Apenas isto direi:/ só se levares anjos no pensamento/ é que terás a hipótese de, um dia, os ver.
Esta manhã
Esta manhã, nasceram as crias/ de cardeal, e já chilreiam,/ pedindo alimento. Elas não sabem/ donde vem, apenas continuam a gritar “Mais! Mais!”.
Em relação ao resto, não têm qualquer/ pensamento formulado. Os seus olhos/ ainda não se abriram, nada sabem/ sobre o céu que as espera. Ou sobre/ as centenas, milhares de árvores./ Nem sequer sabem que possuem asas.
E assim, como se dum mero/ evento de bairro se tratasse,/ um milagre acontece.
Outros poemas dela: https://balaiocaotico.com/2023/04/07/mantenha-um-espaco-em-seu-coracao-para-o-inimaginavel-mary-oliver/