
1921. Frederick Soddy (1877-1956) recebeu o Prêmio Nobel em química por seu trabalho sobre radioatividade. A partir deste ano, entretanto, deu uma guinada e escreveu quatro livros numa campanha por uma reestruturação radical do sistema monetário global.
Ele foi influenciado por um excêntrico e intransigente inimigo da industrialização, John Ruskin (1819-1900, foto).
Ruskin foi um crítico das mazelas da sociedade capitalista industrial: a miséria generalizada, injustiça social, inchaço urbano, destruição da natureza etc. Esse posicionamento foi essencial para as reformas sociais, urbanísticas e de proteção ao meio ambiente, conquistadas ao longo do tempo.
“Temos estudado e aperfeiçoado bastante, ultimamente, a grande invenção civilizada da divisão do trabalho; apenas, nós lhe damos um nome falso. Não é, verdadeiramente falando, o trabalho que é dividido; mas os homens – despedaçados em pequenos fragmentos e migalhas de vida; de tal forma que o pequeno pedaço de inteligência que resta em um homem não é suficiente para fazer a ponta de um alfinete, ou a cabeça de um prego.” (Ruskin)
Ruskin fazia uma corajosa denúncia da supremacia de valores materiais, da hipocrisia, do convencionalismo e da fealdade.
“Não há riqueza além da vida”, dizia Ruskin, de certa forma inspirado em Epicuro: “Queres ser rico? Pois não te preocupes em aumentar os teus bens, mas sim em diminuir a tua cobiça.”
Para Soddy (como também para Ruskin), o consumo era o único objetivo da economia. Daí colocava o dinheiro como uma espécie de inimigo da humanidade.
Temos a economia neoclássica padrão, baseada no equilíbrio entre oferta e demanda e a economia evolutiva (schumpeteriana) baseada numa metáfora da biologia (inovações como mutações).
Soddy nos ofereceu um terceiro ângulo: economia enraizada na física, nas leis da termodinâmica: os seres humanos sobrevivem com base no uso de recursos naturais; se esses recursos se esgotarem, estaremos em apuros.
Na época, Soddy não era levado a sério, mas agora é visto como um precursor da economia ecológica, assim como, posteriormente, Nicholas Georgescu-Roegen (1906–1994).
Sobre Georgescu-Roegen, sugiro a leitura do post publicado em 2020: