
Muitas empresas se utilizam do EBITDA (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) como base para cálculo de bônus a executivos, conforme sejam atingidas ou superadas as metas para este indicador.
Há vantagens e desvantagens no seu uso como aferidor de performance.
O EBITDA é visto (e “comprado” desta forma pelo mercado em geral) como um Fluxo de Caixa Operacional simplificado, por ser apurado antes do cômputo de depreciações e amortizações (que não têm efeito no Caixa), apesar de não ser de fato um fluxo de caixa.
Não é, entretanto, um bom instrumento para evidenciar as origens da Geração de Caixa e, restam muitas outras rubricas de resultado que não afetam o Caixa, como as provisões.
O mercado financeiro também o utiliza como “covenant” para concessão de empréstimos ou avaliação de liquidez, como uma relação entre dívida líquida e o valor do EBITDA.
Ele é muito usual devido à sua comparabilidade entre “resultados” de empresas, independentemente do país, por adotar critérios uniformes. É um indicador “universal”.
Como ele mostra o resultado antes da tributação sobre a renda e as despesas financeiras, permite que qualquer analista aplique a regra do imposto de seu país para obtenção do NOPAT (Net Operating Profit After Taxes – Lucro Operacional Líquido Após os Impostos) – após adição dos valores de Depreciação e Amortização – que é o que lhes interessa.
Como o NOPAT trata-se de um lucro operacional, as despesas e receitas financeiras também são ignoradas, como no EBITDA, por refletirem a estrutura de capital, que pode ser mudada.
Uma das principais críticas que se faz ao EBTIDA é que ele não mostra (ou não leva em consideração) qual é o investimento alocado para a sua geração.
Esse investimento pode ser de longo prazo (compra ou venda de imóveis, máquinas, tecnologias, marcas, etc.) ou de curto e médio prazos, no caso de mudanças nas políticas comerciais (crédito a clientes, prazo de fornecedores, atrasos de compromissos fiscais e trabalhistas, entre outras), efeitos que afetam diretamente o caixa da empresa.
O Capital de Giro da empresa e seu nível de alavancagem financeira não são considerados. E, uma empresa com bons EBITDAs, pode ter sérios problemas de continuidade caso não lhes dediquem atenção aos efeitos no caixa.
Se a métrica de avaliação de executivos não os comprometer com a necessidade de uma boa gestão da sua estrutura financeira (Capital de Giro, financiamentos, empréstimos – ou recursos próprios) e de sua política de investimentos, a empresa pode correr o risco de ter problemas financeiros, mesmo apresentando bons resultados em termos de EBITDA.
Assim, se o foco da empresa for a geração de caixa, que se adote o Fluxo de Caixa Indireto (FCI), que aponta a geração operacional de caixa considerando-se, entre outros, as variações no Capital de Giro.
Uma grande empresa do mercado de varejo, no terceiro trimestre de 2022, mostrava que no acumulado até o período havia gerado um EBITDA de R$ 2.085 milhões, enquanto o Fluxo de Caixa Operacional era de – R$ 2.108 (negativo). Uma diferença de R$ 4,2 bilhões!
Portanto, é temeroso e desaconselhável considerar o EBITDA como uma proxy da geração de caixa.
É recomendável que não se use isoladamente o EBITDA para aferição de performance, por ser insuficiente, podendo gerar distorção sobre o que de fato acontece na empresa, nem do ponto de vista de caixa e, menos ainda, na visão econômica.
A melhor indicação é a utilização do conceito de EVA (Economic Value Added – Valor Econômico Adicionado).
O EVA apura o lucro que excede o custo de capital da empresa. Ele captura a verdadeira rentabilidade econômica do negócio (ou de filiais, divisões, famílias de produtos, etc.). É o lucro econômico. Se for positivo significa que a empresa está “criando valor”; se negativo, “destruindo valor”. É uma ferramenta mais complexa para a implantação.
Ele leva em consideração não apenas a geração de resultados comerciais (lucro operacional), mas também o volume de investimentos utilizado para sua realização.
O gestor ficará atento às práticas comerciais (políticas de preços e de compras, distribuição, marca, práticas concorrenciais etc.) e, não menos importante, às necessidades de recursos para isso, tanto em termos de ativos fixos como em relação ao Capital de Giro.
Caso a organização tenha predileção pela ideia de Caixa, há outro critério, o Cash Value Added (CVA), criado pela consultoria BCG (Boston Consulting Group). É assemelhado ao EVA, porém parte da Geração Operacional de Caixa ao invés do resultado líquido.
Uma alternativa seria premiar a promessa, ao invés de só olhar o já ocorrido: faz-se uma Valuation a partir do FCLE (Fluxo de Caixa Livre da Empresa) projetado para o exercício e, se a Valuation for aceita (aprovada) e atingida, paga-se o bônus acertado.
Portanto, são várias as alternativas para que a gestão da empresa e seus acionistas tenham as bases adequadas para a remuneração variável dos seus executivos, sem, no entanto, gerar distorção e eventualmente colocar em risco a operação da empresa.
Caso a empresa resolva adotar os conceitos e critérios aqui apresentados, ela não precisa fazer alterações bruscas em seu instrumento de Reconhecimento de Performance; é recomendável que essa adequação seja escalonada, mas, desde logo, adicionando-se uma variável financeira à metodologia adotada, caso a empresa adote somente o EBITDA como indicador do desempenho para a remuneração variável para os executivos. Nesse caso, começando por acompanhar a evolução do Capital de Giro e Geração de Caixa, além do EBITDA.
Nós, da Flexus Consultoria em Negócios (www.flexusconsultoria.com.br), consideramos prudente o uso do EBITDA apenas como um dos indicadores, mas jamais o indicador em si, por tudo que ele não representa como qualidade do desempenho da empresa.