O bafo do Tempo (por Jénerson Alves)

Poderia uma lágrima ter caído da minha face, mas acho que essa fonte está meio seca (ou só meio cheia…).

Pode não parecer, mas eu tenho um ‘intrigado’. Sim, um ‘sujeito’ do qual não quero ver a face (se bem que nunca a vi) e sinto um certo asco apenas em ouvir o seu nome.

Para não deixar minha meia-dúzia de leitores inquieta, vou logo revelando: esse meu ‘intrigado’ é o Tempo. Não quero vê-lo, tampouco conversar com ele. Se tal criatura sentar-se à minha frente, não o chamarei para tomar um café.

Infelizmente, sinto que enfrentá-lo é uma luta inglória. Ontem mesmo tentei burlá-lo. E o que fiz? Algo simples. Liguei a televisão e programei a exibição de um filme que eu costumava assistir na Sessão da Tarde. Exatamente como fazia quando voltava da escola há alguns anos, preparei o leite com Nescau e as bolachas Maria. Queria sentir o gosto da infância nesses elementos.

“Que imbecil!”

Foi essa a exclamação que ouvi do Tempo, quando ele me avistou naquela circunstância. Chega pude sentir o bafo dele zombando na minha cara. Só não pude vê-lo – e já não tenho certeza se isso foi porque o Tempo é invisível ou se foi por causa do astigmatismo…

Enquanto o Tempo zombava de mim, fui subitamente abraçado por uma senhora.

Repeti Camões: “Que me quereis, perpétuas saudades?”. Poderia uma lágrima ter caído da minha face, mas acho que essa fonte está meio seca (ou só meio cheia…).

(Publicado originalmente no blog Falou&Disse: https://falouedisse.blog.br/?p=14687)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

Um comentário em “O bafo do Tempo (por Jénerson Alves)

  1. Faço minhas as palavras do autor. Tenho uma certa aversão ao tempo. Desde os primórdios o homem mais sábio que já se viu em toda história e em todo tempo o Rei Salomão também tinha uma certa aversão ao ” TEMPO” tanto é que, nos seus escritos faz alusão ao tempo “como conto ligeiro , como fumaça que se esvai” alguém por sã consciência pode gostar de um conto ligeiro? ou de uma fumaça que se esvai? O Sábio se referia nesse texto a brevidade da vida. E isso me trás uma certa inimizade também com o tempo. Tanto é que nos meus arrazoados poéticos já escrevi sobre o tempo. Como bem relatou o autor do texto: “Liguei a televisão e programei a exibição de um filme que eu costumava assistir na Sessão da Tarde. Exatamente como fazia quando voltava da escola há alguns anos, preparei o leite com Nescau e as bolachas Maria”. Pobre autor!!! Não lhe contaram que o tempo é ligeiro, traiçoeiro e veloz. Nossos pais só nos dizia que o “tempo era precioso”. Não compreendiamos que a preciosidade do tempo resumia na velocidade com que ele passava, como rolo compressor esmagando todos sem nenhuma piedade. O tempo é cantado, poetizado, romantizado, Mas paradoxalmente é cruel. Apenas para justificar nossa aversão ao tempo ” diz o Gênesis que após a queda do homem no Éden passou-se a contar o tempo com o decreto da morte pelo pecado”.

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