Especialistas e generalistas

“Pela falta que nos faz/ A nossa própria luz a nos orientar” (Estrelas, Oswaldo Montenegro)

Com a crescente capacidade de “leitura” e “interpretação” dos fenômenos trazida pela inteligência artificial, restará aos humanos distinguir-se por sua ainda inalcançável emotividade.

Pesquisas em neurociência evidenciam que a emoção é tão importante quanto a razão para orientar nossas escolhas e atitudes. Esse é o tema de mais um livro de Leonard Mlodinow.


As “decisões” humanas, mesmo as refletidas, são afetadas por sentimentos. Pro bem ou pro mal. É uma característica da nossa complexidade.

Nossa educação sempre esteve voltada à “formação” de força de trabalho. Além dessa característica, a razão tem imperado como requisito para compreensão do mundo, desde que Descartes inaugurou o reducionismo, digo racionalismo. Corpo e mente foram dissociados. Sua recomendação de análise e síntese de problemas nos trouxe às especializações.

A divisão do trabalho, acentuada no início do século passado, reforçou a ideia de segmentação como atributo de racionalização. Não discuto que tenha contribuído para aumento da produtividade. Porém, às custas da perda da visão integral do que se faz e, consequentemente, do seu sentido, num contínuo alheamento da condição humana.

Os especialistas continuarão sendo necessários enquanto uma “razão”, ou algoritmos, não os sucederem satisfatoriamente.

Sempre recusei me ver representado apenas pela parte que me cabia executar. Precisava ter um entendimento do todo. Essa sempre foi minha motivação. Por isso sempre fui um generalista. Como o reconhecimento vinha apenas para os especialistas, investi numa especialidade (finanças empresariais), mas com enfoque na empresa como organismo e consciente de que a gestão financeira era apenas um vetor.

Agora, fala-se no conceito de “neogeneralista“. A palavra generalista ainda não tem o respaldo para virar uma marca.

Um neogeneralista seria alguém situado entre um polímata e um hiperespecialista, insinuam. Como se diz na minha região: “é muito demais”.

Um generalista de fato é quem consegue perceber as conexões entre os vários campos e consegue aplicar seus conhecimentos “especializados” em todas as esferas do negócio ou da vida.

Esse profissional tem uma abordagem fluida e flexível (criativa e adaptativa) dos sistemas complexos que o rodeiam (ambiente de trabalho, empresa, sociedade, economia etc.) e sabe com eles interagir de forma responsiva, colaborativa e integrativa. Não se restringe a fronteiras e compartimentalizações.

É o profissional que não teme a automação de tarefas nem a infiltração da AI. Ele pensa de forma completa – razão e emoção – e percebe a interdependência dos atos e decisões. Quando vê uma semente, imagina a frutificação e todos os processos que concorrerão para esse fim.

Claro que ninguém vê o “todo”, mas entenda-o como o escopo de nossos horizontes mental e aspiracional, e de experiências, continuamente alargados.

 

 

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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