Autoengano e falências de empresas

O tempo está se fechando para muitas empresas. No final do ano passado, mais de 6 milhões delas estavam com dívidas atrasadas; isto é cerca de 1/3 do número de pessoas jurídicas. Na retaguarda de cada devedor há uma média de 7 credores.

Uma das linhas mais baratas de crédito bancário é a Antecipação de faturas de cartão de crédito, cujo custo vai de 14,2 a 30,2% a.a.

Se estiver utilizando Capital de giro com prazo até 365 dias, a taxa varia absurdamente de 14 a 170% a.a. Os bancos maiores cobram entre 28 e 42%.

Considerando-se que mais de 3/4 dos consumidores encerraram o ano endividados e que a economia continua patinando, é de se esperar uma crise acentuada de liquidez.

Para uma empresa chegar a esse estágio – repito o que costumo falar – é necessária grande determinação na falta (ou falha) de gestão. Dívida pode ser uma corda de escalada para o erguimento, ou para enforcamento. E, ela não é causa da quebra de empresas; é só um dos sintomas.

Já participei de várias reestruturações empresariais, antes de se chegar ao purgatório da Recuperação Judicial. Nestas, eu não entro.

Aceito atuar enquanto há tempo para os devidos realinhamentos na gestão, contando com a participação primordial dos empregados. Não basta obstinação; sem paixão e plena colaboração não há saída.

Tenho uma forma própria para reorganizar negócios, sem cortes extremos (aleijões) mas sem tolerância para o desperdício de todos os recursos. De outro lado, há a necessidade de reavivar a empresa nos mercados onde atua (ou possa vir a atuar – tanto geograficamente quanto em canais e famílias de produtos).

A gestão financeira é essencial, principalmente sobre o capital de giro operacional, porém a solução a médio prazo está no mercado (fornecedores e clientes). Marketing (no sentido amplo), redesign de produtos, novas formas de distribuição e revisão dos processos operacionais não podem ser relegados.

Às vezes não há solução, principalmente quando o problema-raiz está na relação entre sócios, que espalham suas desavenças nas operações e geram desmotivações dentro da empresa. Se não for possível afastá-los, é perda de tempo.

O orgulho dos proprietários tende a imobilizá-los e a não buscar ajuda, exceto quando não há mais tempo. Há uma cegueira voluntária, alimentada por autoengano, que trava a possibilidade de reerguimento ou reformulação do negócio.

As empresas podem morrer, claro; mas é triste ver sua antecipação.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

Um comentário em “Autoengano e falências de empresas

  1. Excelente reflexão, Dorgival!
    Eu compartilho contigo sobre a forma de recuperar uma empresa e o processo descrito por você, como purgatório, esse é o caminho que tenho assistido por todos os lados, principalmente em empresas familiares. Nesse segemento, em muitos casos, mas não exclusivamente as familiares, as questões emocionais, ou empafia, são mais preponderantes que a boa técnica de gestão.

    Parabéns!!!

    Adalmir Sampaio Gomes – Sócio da Flexus Consultoria em Negócios

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