
Vera Cooper Rubin (foto) foi a astrônoma responsável pela comprovação da existência da matéria escura no universo. Comprovação indireta, ainda.
A ideia da matéria escura é antiga, de 1933, mas foi ignorada. O primeiro a denominá-la como “matéria escura” foi Fritz Zwicky, respeitado, porém tido como excêntrico.
Escrevi sobre Zwicky há dois anos; link abaixo.
Antes dele, entretanto, o genial astrônomo holandês Jan Oort havia chegado a uma conclusão similar sobre matéria escura – um ano antes – mas não a “batizou”.
Oort ainda não foi o pioneiro. Dois anos antes dele, um astrônomo sueco, Knut Lundmark, havia constatado lacunas de matéria (visível) nas galáxias. Suas medidas da proporção entre o que hoje chamamos de matéria escura e matéria visível eram as que mais se aproximavam do valor real, que se estima estar perto de cinco para um.
A matéria escura ainda não é observável. Os cientistas se utilizam de suas influências indiretas para inferir sua presença no Universo.
Além da matéria escura, há a presunção da existência da energia escura, que não comentarei agora. Parece vivermos uma nova idade das trevas, na cosmologia.
“A matéria escura, a rigor, não é escura – ela é transparente. Coisas escuras absorvem luz. Coisas transparentes, por outro lado, são indiferentes à luz. A luz pode bater na matéria escura, mas nem a matéria nem a luz vão mudar por conta disso”, nas palavras de Lisa Randall.
Daí, cabe distinguir matéria escura de buracos negros. A matéria escura não interage com a luz; buracos negros absorvem luz e tudo o mais que chegar perto. Os buracos negros são negros porque toda luz que entra neles ali permanece; não é irradiada nem refletida.
A matéria escura é, segundo entendimentos da ciência (a ciência é sempre provisória, é aberta a novas descobertas), aquele material esquivo que existe no Universo, que interage através da gravidade como a matéria comum, mas que não emite nem absorve luz.
Porém, o Universo, por definição, é uma entidade única e, por princípio, seus componentes interagem.
Não resisto a considerar as formas pelas quais os grandes sistemas de pensamento tentaram sistematizar o, digamos, papel do homem no Universo.
Na China antiga aprendia-se que o corpo humano apresentava um complexo sistema de meridianos (ou canais), no qual circula a Força Vital (Chi), responsável pela manutenção da vida e da saúde.
Além dessa Força Vital, acreditava-se na existência de uma Energia Ancestral (Tinh), associada à Energia Mental ou Psíquica (Than).
Na Índia, brâmanes e budistas entendem que o corpo físico é envolto por algo como o éter (Linga Sharira). Esses corpos (físico e etéreo) são energizados por Prana, uma corrente do oceano de vitalidade (Jiva) ou fluido cósmico universal.
O cristianismo tem duas palavras para representar a entidade “divina” que habita o corpo humano: Alma e Espírito. Essa entidade, através de Tomás de Aquino, remonta à leitura aristotélica da visão platônica (por sua vez, interpretando Sócrates) do dualismo corpo e alma (Eu Superior).
A língua latina trouxe algumas dificuldades interpretativas para os termos que definem as entidades imateriais do homem: animus, anima, mens, spiritus, intellectus e ratio. Não são equivalentes, mas confundem.
Esse tema é extenso; melhor pararmos por aqui.
O que quero ressaltar é que pode haver algum paralelismo (mesmo que nunca se encontrem) entre os avanços científicos e ideias filosóficas ancestrais.
“Fiquei abismada com tantas conexões entre fenômenos que permitem nossa existência. Quero deixar claro que meu ponto de vista não é religioso. Não vejo necessidade de atribuir propósitos ou significados às coisas. Mas não consigo evitar sentimentos que costumamos chamar de religiosos quando começamos a entender a imensidão do universo, nosso passado e como tudo se conecta.” (Lisa Randall)
“Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas”, dizia Paulo em 2 Coríntios 4:18.