“Seja você mesmo; todas as outras personalidades já têm dono.” (Oscar Wilde)

Uma tempestade! Aqui, ao meu redor, enquanto escuto “A Canção da Terra”, do sofrido Gustav Mahler, que, aliás, morreu durante um temporal.

Lembro das catástrofes recorrentes no verão, um símbolo de desprezo pela vida. Vidas descontinuadas, soterradas com seus esboços de planos para o futuro, saturadas de infelicidades, mas sempre ávidas por mais, como é característico do viver.

Infelicidade é um hábito comum, como se referia Samuel Beckett: “algo que você pode continuar aumentando durante toda a sua vida … feito uma coleção de selos.”

Parte desse sentimento de decepção com a vida decorre do desejo de espelharmos os outros e não nos aturarmos. Afinal, “somos sempre mais irreais que o outro”, avaliava Marguerite Duras.

Direto, Oscar Wilde dizia: “Seja você mesmo; todas as outras personalidades já têm dono.”

A tempestade pode ter um sentido figurado, o da transformação para uma vida própria, única, mesmo que imperfeita, desde que dê curso ao que sentimos e que normalmente escolhemos não assumir. A isto alguém pode chamar de liberdade.

“Tudo estava calmo. O sol brilhava. Eu nadava no fundo. E então, quando voltei à superfície, vinte anos depois, descobri que havia uma tempestade, um redemoinho, um vendaval jogando as ondas por cima da minha cabeça. A princípio, não sabia ao certo se conseguiria voltar para o barco, e então me dei conta de que não queria conseguir. O caos é, em tese, o que mais tememos, mas cheguei à conclusão de que talvez seja o que mais queremos.” (Deborah Levy)

Afastar-se do barco das supostas seguranças pode ser uma decisão a considerar. Se a vida desmorona talvez seja um sinal de que devemos evitar situações que escondem riscos camuflados de normalidade.

“Foi quando voltei para casa. Fiquei um bom tempo em pé no alto da escada, me recusando a entrar.” (Louise Glück)

Talvez devamos ser mais tolerantes com nossas próprias inseguranças e desenvolver uma simpatia pelo risco, ao invés de ignorá-lo.

Admitir o risco não significa deixá-lo aumentar ou desprezá-lo; requer antecipar-se e preparar-se; reduzir nossas vulnerabilidades.

No Gênesis, Deus após ter criado o homem não repetiu “isto é bom”, como dissera para suas outras criações.

Segundo uma história hassídica, Deus não disse que era bom porque o homem foi criado como um sistema aberto, com o objetivo de que desenvolvesse e crescesse, e não era acabado, como o resto da criação.

Não importa que seja mesmo assim, apenas que tudo é processo, inconcluso.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

Um comentário em ““Seja você mesmo; todas as outras personalidades já têm dono.” (Oscar Wilde)

  1. Deus criou o homem sua Imagem e Semelhança, assim nos relata o Gênesis com o advento do pecado era necessário o nascimento e seu crescimento. O texto nos relata isso. “No Gênesis, Deus após ter criado o homem não repetiu “isto é bom”, como dissera para suas outras criações”. Isto é fato. Porém o próprio Criador era perfeito e acabado por consequência o Homem sua Imagem e Semelhança era também perfeito e acabado. Em minha modesta análise, tudo começou quando o ser perfeito e acabado por livre e espontânea vontade se tornara imperfeito. Essa imperfeição tem trazido sérias consequências. O texto faz menção a certas catástrofes. Não vou me ater a esses detalhes já que o homem nunca assumiu sua imperfeição. Que por mais inteligência e sabedoria não se contenta com o que tem, cada dia quer mais e mais, advindo esses fenômenos da natureza que nos tem causado dores e sofrimentos. Não é demais citar aqui um trecho das Escrituras Sagradas que nos diz:”De que reclama o ser vivente? De seus próprios males”. B.Sagrada linguagem moderna. Não é exagero atribuir a nós mesmos nossos males. Sentimos as consequências e as reações de nossos próprios males no nosso próprio corpo. Estamos vendo as doenças, as reações trágicas da natureza com várias fenômenos catastróficos bem frequentes nos últimos anos. Nada mais é que a ganância do homem nas modificações do perfeito que o Criador fez para o imperfeito que é feito pelo Homem. A civilização é necessária e útil ao homem. A ganância não, já é um fato desastroso com sérias consequências.

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