
Em 1142 foi divulgado o Decreto de Graciano, uma compilação de todas as normas canônicas da época, elaborada por um monge que lhe emprestou o nome e aprovado pelo papa Eugênio III. Na prática, foi criado ali o direito canônico.
Um dos seus efeitos foi afastar as mulheres estritamente da Igreja. A Igreja é patriarcal, as mulheres são – de fato – apenas toleradas. As questões do celibato e do patrimônio eclesiástico (a questão de herança está por trás) tornaram as mulheres seres perigosos para a instituição.
Um entre tantos casos de má vontade contra as mulheres foi a condenação das beguinas, movimento iniciado no século XII, nos Países Baixos. As beguinas eram mulheres católicas que procuravam praticar uma vida ascética e se dedicavam a cuidar de pobres e doentes – porém não faziam votos (“obediência, castidade e pobreza”), podiam casar e não renunciavam suas propriedades. Não tiveram vida fácil.
Outro exemplo é o caso da papisa Joana. Oficialmente não existiu; seria um mito, uma heroína imaginária.
Uma das versões sobre Joana, divulgada em 1280 pelo dominicano Martinho de Opava, conta que teria nascido em 814 em Mainz (Mogúncia). O pai a teria proibido de aprender a ler, só os meninos podiam. O irmão lhe ensina.
Para fugir da sua situação, traveste-se a fim de seguir o seu amante. Estuda em Atenas e, já admirada, é recebida em Roma e entra na hierarquia da Igreja. Termina por ser eleita papa.
“Após o último Leão (Leão IV), João, originário de Mainz, foi papa durante dois anos, sete meses e quatro dias. Morreu em Roma, e o papado ficou vago durante um mês. Pelo que se diz, ele era uma mulher; em sua adolescência, ela fora conduzida a Atenas, vestida de homem, por aquele que era seu amante; fizera muitos progressos nas diversas ciências sem que ninguém a houvesse igualado; foi assim que em seguida pôde ensinar em Roma (…) elegeram-na papa por unanimidade. Porém, durante o seu pontificado, seu companheiro engravidou-a. Como ela/ele ignorava o momento em que devia parir, quando se estava dirigindo para Latrão, tomada pelas dores do parto deu à luz uma criança e depois morreu (…) Ela não foi inscrita no catálogo dos santos pontífices em função da não conformidade do sexo feminino neste domínio.” (Martinho de Opava)
Tiago (Jacopo) de Voragine, o célebre autor da Legenda Áurea (Lenda dourada) destila toda misoginia, comum na época (1481) e no meio, na sua luta contra a “poluição do sagrado pela mulher”:
“Esta mulher empreende com presunção, persiste com falsidade e estupidez e termina vergonhosamente. Tal é de fato a natureza da mulher, que diante de uma ação a realizar tem presunção e audácia no início, burrice no meio e passa vergonha no fim. A mulher, portanto, começa a agir com presunção e audácia, mas não leva em consideração o fim da ação e o que esta envolve: ela pensa já ter feito grandes coisas; se puder começar algo de grande, não saberá mais, depois do início, durante a ação, continuar com sagacidade o que foi iniciado, e isto por causa de uma falta de discernimento. Ela é obrigada, portanto, a terminar com vergonha e ignomínia o que foi empreendido com presunção e audácia e continuado com burrice.” (Jacopo de Voragine)
Texto interessante. De fato em alguns meios religiosos as mulheres não ocupam o papel principal nas Igrejas. Tanto católicos como evangélicos. Porém, nas evangélicas as mulheres tem evoluído em papéis de destaque. (Contestado por alguns) já no catolicismo as mulheres são mais submissas ocupando papéis de uma religiosidade em servir os pobres e necessitados. Porém, creio eu que daqui a alguns anos muitas vão sair desse papel de submissão e dedicar mais ao sacerdócio. Ocupar o lugar de destaque em igualdade de gênero.
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