A isca

Enquanto restarem empregos teremos a questão da remuneração na pauta. As mudanças forçam as organizações a se adaptarem, porém, para qualquer que seja o arranjo seguido, é necessário que o vínculo do empregado com a empresa mantenha-se “satisfatório”.

Esse é um assunto sempre atual. As alternativas para que se reduzam as queixas habituais (o salário é baixo; não é equânime; não reflete o esforço individual ou de grupos etc.) já são conhecidas e podem ser resumidas a (entre outros): participação acionária (Long Term Incentive Plan – Stock Options), distribuição de ganho ou plano de incentivos (Gain Sharing), distribuição de Lucros (PLR), remuneração por competências e habilidades, remuneração variável e por resultados (Pay-for-Performance Program).

Noto que aquilo que antes buscava-se – isonomia e justiça, além de um horizonte (Plano de Carreira, lembram?) – foi, assumindo-se os conceitos da psicologia comportamental (behaviorismo), transformando-se em planos de engajamento e motivacionais. Principalmente para os altos executivos, que, supõem-se, fazem a diferença nos negócios.

O behaviorismo tem por alvo prever e controlar o comportamento humano, basicamente com punições e recompensas. Assim foi construído o sistema educacional tradicional, por exemplo.

No afã de tornar a psicologia uma ciência, John Watson (apoiado nos estudos de Vladimir Bechterev e Ivan Pavlov) criou o Behaviorismo metodológico, que, por sua vez, inspirou Burrhus Skinner a criar o Behaviorismo operacional ou radical.

Skinner conduziu a maioria de seus experimentos com roedores e pombos, mas escreveu a maioria de seus livros sobre pessoas.

“A visão antropomórfica do rato foi substituída, pela psicologia americana, pela visão ratomórfica do homem.” (Arthur Koestler)

Segundo o behaviorismo, os seres vivos já nascem com certos reflexos; possuem determinada reação a partir de ações específicas. Nosso comportamento não seria consequência do livre arbítrio ou emoções, mas sim das consequências dos nossos atos, positivos ou negativos. 

Entretanto, a queda de produtividade nos locais de trabalho, a crise nas escolas e os valores distorcidos de nossas crianças e em muitos executivos “bem sucedidos”, indicam que há algo que não funciona – a médio prazo – nessas práticas.

A competição, estimulada pelo sistema, nos impede de fazer nosso melhor trabalho do ponto de vista social, ambiental e empresarial, mesmo que demore um pouco para que surjam as evidências.

A moral, para Skinner, é algo que cabe à sociedade julgar. A sociedade dirá se determinada ação é apropriada ou inapropriada, adequada ou inadequada – nunca que é certa ou errada.

“Você poderia (ou deveria) dizer a verdade: nós traduziríamos como ‘Se você é reforçado pela aprovação de seus semelhantes, você será reforçado quando disser a verdade’.” (Skinner)

Sim, é assim que funciona para muitos, talvez a maioria. Estamos, como sociedade, entranhados com essa ideia de aprovação-desaprovação, prêmio-castigo, sucesso-fracasso.

É um tipo de ética utilitarista, no sentido de que uma atitude é moralmente correta se tende a promover a “felicidade”. A rigor, a ética utilitarista considera que essa “felicidade” deve se estender a todos afetados pela ação e não exclusivamente ao agente.

Uma das manifestações desses conceitos comportamentais é a tal da meritocracia, afinal o mundo é para os merecedores.

O fracasso é condenado; a fraude, nem tanto.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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