
Espinosa entendia que todos os indivíduos são expressões singulares da potência absolutamente infinita da Natureza.
Essa expressão precisa ser lida e relida; e entendida.
Por isso, em cada indivíduo, seu direito é idêntico ao seu poder de exercê-lo, ou idêntico à sua potência de agir.
Ele cunhou a frase “direito, ou seja, poder” (jus sive potentia). Significa que ser ‘sui juris’ (aquele que está sob seu próprio direito e sob seu próprio poder, sendo por isso autônomo) é ter em si mesmo o poder para exercer seu próprio direito e, estar ‘alterius juris’ (aquele que está sob o direito e sob o poder de um outro) é não ter esse poder, o qual, entretanto, pode ser reconquistado.
O texto acima apoia-se nas análises de Marilena Chaui.
Escravo é aquele que age sob o poderio das paixões, obedecendo cegamente aos impulsos passionais. Aquele que obedece aos preceitos da razão é livre.
“Costuma-se imaginar, que o escravo é aquele que age em obediência ao comando de um outro, e o homem livre, aquele que age segundo seu bel-prazer.” (Espinosa)
Porém, acrescentava, essa imagem é ilusória porque ambos são escravos, uma vez que a escravidão é estar em poder de algo ou de alguém que, do exterior, domina o indivíduo.
Obedecer ao comando das paixões ou a outro homem são semelhantes, pois trata-se de uma heteronomia, palavra que significa estar sob a lei (nómo) de um outro (heteros).
Escravo, para ele, é aquele que obedece a um mandamento que visa exclusivamente à utilidade, ao interesse e ao desejo de um outro.
Se escravidão é heteronomia, liberdade é autonomia; ou seja, o próprio agente (autós) institui a lei (nómos) sob a qual vive.
Numa democracia, o cidadão é súdito da lei, e esta foi instituída pela ação dos próprios cidadãos. Portanto, ao obedecê-la obedecem a si mesmos e são livres.
Há que se corrigir as distorções entre a vontade popular e as leis aprovadas por seus representantes.
Para finalizar, Espinosa lembrava que a razão – o conhecimento verdadeiro de si e da relação com os demais – libera alguém de medos e esperanças imaginários com que um outro o ludibriou e que o escravizam ao desejo e poder desse outro.
Parece atual.
Sempre há um risco quando se busca a liberdade.
Lembram da mitologia sobre Lilith?
Lilith teria sido a primeira esposa de Adão. Mas a sujeita não aceitou ser submissa sexualmente – queria um modo igualitário. Abandonou o Adão. Não se deu bem, virou um demônio.
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