
Com o iluminismo, a partir do século XVIII, acreditou-se que haveria uma harmonia entre o “progresso” e aumento da felicidade.
O progresso anunciado se traduziria em avanço do saber científico, uma disparada na produtividade, o “domínio” definitivo da natureza pela tecnologia, a libertação das mentes do jugo religioso, superstição e servilismo, a transformação das instituições políticas, o aprimoramento intelectual e moral da população via educação e leis … Ou seja, o progresso da civilização.
Tudo em nome da felicidade! Por que não em nome da dignidade e da civilidade?
Não há relação direta entre progresso material e bem estar, admitamos. Principalmente quando o motor do consumo alimenta a insaciabilidade.
As pessoas são direcionadas para o sucesso, material, e não se preparam para o fiasco, que alimenta outra indústria, a da doença.
A “felicidade” consumista se ampara na vaidade, na ostentação, na inveja alheia, no “reconhecimento” social, na ilusão do mérito … na fuga de si.
“Vivemos todos num estado de pobreza ambiciosa”, dizia Juvenal, no século II. Ou, “Quanto mais o dinheiro aumenta, mais cresce a vontade de possuí-lo”.
O sistema habilmente nos conduz como agentes que produzem e consomem, no viço da liberdade.
Vivemos “num paraíso habitado por assassinos sem maldade e vítimas sem ódio”, diz Günther Anders.
A liberdade, a rigor, transforma-se numa autocoerção; aprendemos a nos cobrar e a impor limites justificativos a nós mesmos.
“O sujeito do desempenho, que se julga livre, é na realidade um servo: é um servo absoluto, na medida em que, sem um senhor, explora voluntariamente a si mesmo”, explica Byung-Chul Han.
O trabalho não liberta o servo; ele continua a ser um escravo do trabalho.
“Para viver, perder as causas da vida”. (Juvenal)