“Proteja-me do que quero” (Jenny Holzer)

Com o iluminismo, a partir do século XVIII, acreditou-se que haveria uma harmonia entre o “progresso” e aumento da felicidade.

O progresso anunciado se traduziria em avanço do saber científico, uma disparada na produtividade, o “domínio” definitivo da natureza pela tecnologia, a libertação das mentes do jugo religioso, superstição e servilismo, a transformação das instituições políticas, o aprimoramento intelectual e moral da população via educação e leis … Ou seja, o progresso da civilização.

Tudo em nome da felicidade! Por que não em nome da dignidade e da civilidade?

Não há relação direta entre progresso material e bem estar, admitamos. Principalmente quando o motor do consumo alimenta a insaciabilidade.

As pessoas são direcionadas para o sucesso, material, e não se preparam para o fiasco, que alimenta outra indústria, a da doença.

A “felicidade” consumista se ampara na vaidade, na ostentação, na inveja alheia, no “reconhecimento” social, na ilusão do mérito … na fuga de si.

“Vivemos todos num estado de pobreza ambiciosa”, dizia Juvenal, no século II. Ou, “Quanto mais o dinheiro aumenta, mais cresce a vontade de possuí-lo”.

O sistema habilmente nos conduz como agentes que produzem e consomem, no viço da liberdade.

Vivemos “num paraíso habitado por assassinos sem maldade e vítimas sem ódio”, diz Günther Anders.

A liberdade, a rigor, transforma-se numa autocoerção; aprendemos a nos cobrar e a impor limites justificativos a nós mesmos.

“O sujeito do desempenho, que se julga livre, é na realidade um servo: é um servo absoluto, na medida em que, sem um senhor, explora voluntariamente a si mesmo”, explica Byung-Chul Han.

O trabalho não liberta o servo; ele continua a ser um escravo do trabalho.

“Para viver, perder as causas da vida”. (Juvenal)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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