
“Como representei o meu papel nesta comédia da vida?”, perguntou-se Augusto no seu leito de morte, segundo Suetônio.
Caio Otávio Turino, depois, Caio Júlio César Otaviano e, posteriormente, Augusto, viveu por 77 anos (63 a.C.- 14 d.C.).
A fala de Augusto pode nos mostrar o quão insignificante somos, pois a morte vem. Este grande romano, no final da vida, sentia-se irrealizado e até mesmo fracassado, em muitos aspectos.
Quando Júlio César (seu tio e pai adotivo), foi assassinado (em 44 a.C.), ele tinha 19 anos, e Roma estava dilacerada por discórdias e guerras civis.
Ele estava na Grécia quando recebeu a notícia por uma carta de sua mãe:
“Meu filho, seu tio Júlio foi assassinado pelos seus inimigos, hoje no Senado. Estou escrevendo assim porque para notícias como esta não há preparação possível. E eu digo simplesmente ‘seus inimigos’ porque tudo aqui é incerteza. Ninguém sabe o que pode acontecer, se isto é o começo de novas guerras ou não. Portanto, meu filho, tenha cuidado. Entretanto, chegou a hora de você assumir o papel de homem, tomar decisões e agir, pois ninguém sabe ou pode prever o que o futuro trará.”
Na sua autobiografia, ele não se abstém de confessar suas crueldades, astúcias e engodos políticos que julgou inevitáveis para sua ascensão ao poder. Conseguiu trazer relativa paz e estabelecer alguma ordem.
Percebe-se sua satisfação com sua própria inteligência e habilidade política e seu sucesso. Mas, quando chegou a hora de encerrar esse circuito terreno, notou que tudo é vão.
Já sentindo que a morte estava perto, encontrou-se com Tibério, seu filho adotivo, que o sucedeu. Disse-lhe, como se estivesse dando uma aula a Maquiavel, que viria 14 séculos depois:
“(…) alguns se alegram com a proximidade da minha morte, e já estão, ouvi dizer, tagarelando a respeito das bênçãos da liberdade – ah, os crimes que se cometem em nome da liberdade! (…)
Conheço-o muito bem, Tibério, e sei que tende a simpatizar com os que parolam sobre liberdade. Mas também sei que você tem bom senso demais para se render a eles. (…)
O Estado livre não pode voltar sem a destruição do Império. (…)
Você tem o comando direto dos exércitos; faça-lhes um donativo quando a minha morte for anunciada. Tente conseguir uma parceria com o Senado, mas lembre-se de que o Senado deve sempre vir em segundo lugar. (…)
Eles dizem que sou um deus. Que tolos. Somos eu e você os últimos homens em seu juízo perfeito num mundo enlouquecido? Você não fica perplexo com a decadência da sua raça?”
O mundo gira e o poder continua como centro de gravidade política. As mudanças se dão – quando ocorrem – para nos dar a impressão que nós – o povo – estamos no controle. Ilusão.
Tibério se mostrou um bom imperador, no início. Depois tornou-se um cruel ditador. Em seguida vieram Calígula, Cláudio e Nero. Triste fim da dinastia Júlio-Claudiana.