Insurgente por natureza

“Ao entrar no Recife,

Não pensem que entro só.

Entra comigo a gente

que comigo baixou

por essa velha estrada

que vem do interior;

entram comigo rios

a quem o mar chamou,

entra comigo a gente

que com o mar sonhou,

e também retirantes

em quem só o suor não secou;

e entra essa gente triste,

a mais triste que já baixou,

a gente que a usina,

depois de mastigar, largou.” (João Cabral de Melo Neto)

Em 1817, cinco anos antes da dita Independência, houve uma revolução em Pernambuco, liberal e republicana!

Adeptos do Iluminismo contestavam o absolutismo monárquico português.

À época, Pernambuco era a capitania mais lucrativa da colônia e custeava a corte que se estabelecera no Rio de Janeiro.

A Capitania de Pernambuco, então, abrangia também os atuais estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e o Oeste da Bahia (Comarca do Rio São Francisco).

Foi, durante a revolução de 1817 que a República foi proclamada pela primeira vez em terras brasileiras.

Portanto, não foi Itu, em São Paulo, o Berço da República – lá apenas ocorreu a primeira Convenção Republicana, em 1873!

A rigor, se alguma cidade merece o título de Mãe da República esta é Olinda.

Aliás, não só do Brasil – inexistente à época. Isto porque o Primeiro Grito da República se deu lá, em 1710! A Revolução Francesa se deu em 1789 e a Independência americana, em 1776.

Todo 10 de novembro se comemora este fato em Olinda.

Essa proclamação foi feita por Bernardo Vieira de Melo durante a Guerra dos Mascates. Foi preso, condenado pelo crime de lesa-majestade e inconfidente, levado a Lisboa, morrendo na prisão.

A origem da Guerra dos Mascates é econômica – a aristocracia pernambucana perdia poder em decorrência da queda do preço internacional do açúcar, principalmente devido à produção nas Antilhas. Essa história merece um texto específico.

A independência de Pernambuco também fora tentada em 1801, com a Conspiração dos Suassunas, promovida pelos irmãos Luiz, Francisco e José de Holanda Cavalcanti de Albuquerque, esta já inspirada na Independência dos EUA e pela Revolução Francesa.

Tudo muito influenciado pela Areópago de Itambé, a primeira loja maçônica do Brasil, fundada em 1796, em Itambé, Pernambuco.

Pernambuco voltaria a se insurgir por sua independência em 1817 e 1824, na Confederação do Equador.

Como punição a essa histórica postura rebelde, Pernambuco foi sendo desmembrado, ficando a tira que é hoje. Economicamente, também, foi desprestigiado, a partir da instalação do reino no Rio de Janeiro e pelos novos ciclos do ouro e do café, com o afluxo de imigrantes – após a abolição. Os ciclos do algodão e da borracha não foram importantes para sua perda de relevância.

Hoje, vejo descendentes desses imigrantes – concentrados no Sul e Sudeste do país – clamando por uma secessão dos miseráveis estados do Norte e Nordeste.

Não conhecem a história e, sequer, sabem que o N e NE, com baixa industrialização, financiam os estados produtores via ICMS, mesmo com as alíquotas interestaduais diferenciadas. Este tributo deveria ser arrecadação dos locais que consomem, não dos que produzem.

Um processo de secessão – que não defendo (é crime) – não seria prejudicial aos estados pobres do N e NE, ao contrário. Poderíamos comprar insumos e produtos industrializados diretamente do exterior, sabidamente de melhor qualidade (em geral) e mais baratos.

Isso também é um assunto à parte.

 

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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