
O mexicano Octavio Paz (1914-1998) era poeta, ensaísta, tradutor, crítico literário e diplomata.
Certeza
“Se é real a luz branca
desta lâmpada, real
a mão que escreve, são reais
os olhos que olham o escrito?
Duma palavra à outra
o que digo desvanece-se.
Sei que estou vivo
entre dois parênteses.”
Paz relaciona Religião com Poesia. Ambas tendem à comunhão; as duas partem da solidão e buscam, por meio do alimento sagrado, romper a solidão e devolver ao homem sua inocência.
Nas suas palavras:
“A poesia se apresenta como uma atividade subversiva e dissolvente: só existe ao se individualizar, ao se encarnar em um poeta.
Enquanto a religião é profundamente conservadora, pois torna sagrado o laço social, ao converter a sociedade em igreja, a poesia, ao contrário, rompe esse laço sacramentando uma relação individual, à margem, ou mesmo contra a sociedade.
A poesia não é ortodoxa; é sempre dissidente. Não necessita da teologia, nem do clero, pois não tem missão nem apostolado. Não quer salvar o homem nem construir a cidade de Deus. É uma conduta pessoal e irregular que não pretende nada mais do que dar-nos o testemunho terreno de uma experiência .
Nascida do mesmo instinto que a religião, aparece-nos como uma forma clandestina, ilegal, irregular, da religião: como uma heterodoxia, não porque não admite os dogmas, mas porque se manifesta de forma privada e muitas vezes anárquica.
Em outras palavras: a religião é uma forma social; a poesia, um impulso individual.”