
É sempre boa hora para se falar sobre educação, um esforço que pode mudar sociedades.
O novo governo trouxe para o Ministério da Educação dois políticos cearenses prestigiados pela ênfase que foi dada à educação em seu estado.
Nesta semana, faleceu Magda Becker Soares, uma educadora que via a alfabetização infantil por uma perspectiva multifacetada, integrando análises de métodos de ensino com perspectivas sociais, políticas e históricas; no estilo Paulo Freire, que pregava uma alfabetização criativa e crítica.
Como o futuro às vezes está no passado, quero relembrar o papel de Jan Amos Comênio, um checo que viveu entre 1592 e 1670.
Ele é considerado o fundador da didática moderna.
Jean Piaget o tinha como um precursor do evolucionismo, da psicologia genética, da didática fundamentada no conhecimento da criança e da educação funcional.
A educação, para Comênio, seria uma ciência, que estaria no centro de uma “pansofia“, um sistema filosófico global.
A ideia de educação continuada (“lifelong learning“) já era antecipada: a educação não seria unicamente a formação da criança na escola ou na família; seria um processo que acompanharia toda a vida da pessoa e suas múltiplas adaptações sociais.
Num paralelismo entre o homem e a natureza, dizia que é a ordem das coisas que constitui o verdadeiro princípio educador; este só poderia cumprir seu papel se permanecesse um instrumento nas mãos da natureza.
Ele compreendia a educação como um dos aspectos dos mecanismos formadores da natureza.
Assim como a arte imita a natureza (Aristóteles), a sensação – os sentidos – permite restabelecer a harmonia entre a ordem ativa das coisas que ensina e a “espontaneidade” do sujeito que a percebe.
Comênio defendia uma didática progressiva ajustada ao estágio de desenvolvimento do aluno.
Ele definiu três regras para o desenvolvimento espontâneo, perfeitamente válidas:
- Envie as crianças para as aulas públicas durante o menor número de horas possível, quer dizer, durante quatro horas, e reserve o mesmo número de horas para os estudos pessoais;
- Sobrecarregue o menos possível a memória, ou seja, decorar somente as principais coisas, deixando o restante para os exercícios livres.
- Ao contrário, ordene todo o seu ensinamento na capacidade dos alunos, que se desenvolvem por si mesmos com a idade e o progresso escolar.
Vejam, há aí a confiança nas capacidades cognitivas dos alunos, o respeito às suas características pessoais e o estímulo ao pensamento criativo.
Seu modelo didático privilegiava a ação, antes dos conceitos e teorias:
“Os artesãos não mantêm seus aprendizes com teorias, mas os fazem trabalhar imediatamente para que aprendam a forjar, forjando, a esculpir, esculpindo, a pintar, pintando, a saltar, saltando.
Que nas escolas, então, se aprenda a escrever, escrevendo, a falar, falando, a cantar, cantando, a pensar, pensando etc.
De modo que as escolas sejam ateliês onde se trabalhe com ardor.
Assim, todos comprovarão por meio de uma prática feliz a verdade deste provérbio: ‘fabricando fabricamur’ (algo como ‘nós somos feitos fazendo’)” (Comênio)
O aluno precisa ser motivado a querer aprender, não deve ser forçado (ele se opunha aos castigos corporais): “A natureza só impulsiona os seres que atingiram seu pleno desenvolvimento e que aspiram a fazer sua irrupção”, repetia.