
Tenho um amigo que fala sempre que estamos condenados à mediocridade, porque saímos de um governo odiento, que apresentava o futuro como a negação do avanço da civilidade e da ciência, e, escolhemos outro que teria se caracterizado pela corrupção.
Como se corrupção fosse característica de um governo.
Ele não mede palavras, acha que trocamos de quadrilha.
Eu penso diferentemente. Acho que o “populismo” que assume agora é necessário e pode ser essencial para que saíamos daquele futuro com sabor de passado.
“Desigualdade entre a criança que enfrenta a melhor escola particular e a criança que engraxa sapato na rodoviária, sem escola e sem futuro. Desigualdade entre a criança feliz com o brinquedo que acabou de ganhar de presente, e a criança que chora de fome na noite de Natal. (…)
Desigualdade entre quem joga comida fora e entre quem só se alimenta das sobras. É inadmissível que os 5% mais ricos deste país detenham a mesma fatia de renda que os demais 95% de pessoas. Que seis bilionários brasileiros tenham uma riqueza equivalente ao patrimônio dos 100 milhões mais pobres do país” (trechos do discurso de Lula em 1/1/23)
Esse país tem sido desperdiçado por políticos que acham que riquezas naturais são garantias de que somos ricos, como se ignorassem que riqueza é fluxo, não estoque.
E esse fluxo, quando acontece, precisa ter alguma equanimidade no seu proveito. O país continua como rico, potencialmente.
Mas, voltando a meu amigo. Ele diz que o novo governo tem origem nos sindicatos e que estes são corruptos.
Já lidei com sindicatos; nem todos são corruptos.
Uma vez, pressionado por um líder sindical, resolvi não fazer acordo e fiz o que ele não esperava: fui ao caminhão do sindicato, subi e falei diretamente aos empregados.
Os empregados me conheciam – e confiavam em mim, por uma prática diária de convivência e de ouvi-los – e expliquei o que poderíamos ou não fazer.
O sindicato era um estranho – eu não.
Eles – o sindicato – saíram de mãos vazias.
Alguns sindicalistas eram corruptos, queriam pequenas benesses – um bom almoço, por exemplo. A maioria que conheci, entretanto, era idônea.
Há corrupção onde há dinheiro.
Quando cheguei a São Paulo, transferido de Pernambuco, a pedido, para implementar medidas bem sucedidas, tive uma surpresa.
Indo para Ribeirão Preto, acelerei demais e fui parado pela polícia rodoviária estadual. Entreguei a Carta de motorista com dinheiro.
Quase fui preso. Estranhei. Essa era a prática na minha região.
Nem todos os policiais são corruptos; nem todos os sindicalistas são corruptos – aliás, tive muitos encontros com líderes sindicais corretos, idealistas .
Até políticos , alguns, acho, não são corruptos.
Entretanto, vi muitos compradores, vendedores e intermediários de empresas privadas, se venderem, corruptamente.
Resumo: a corrupção é uma vontade de enriquecimento rápido, onde quer que o corrupto (ou potencial) esteja.
Sabemos da corrupção particular, aquela que praticamos vez em quando, e ignoramos – achamos que são necessárias para nos livrar de pequenos incômodos. No entanto, queremos que os poderosos sejam escrupulosos. Somos?