
“… iremos ao encontro do próximo milênio sem esperar encontrar nele nada além daquilo que seremos capazes de levar-lhe.” (Italo Calvino)
Um ano novo! Esperança e fé na concretização de sonhos só sonhados, que parecem depender de intervenções sobrenaturais para suas realizações.
Isso, porque viver é um exercício – em si – de aprimoramento e inevitável decaimento.
O mundo é regido – ou constantemente contrariado – pelo caos e sua prima, a catástrofe. A busca da ordem como princípio da vida é invenção do homem, desde a ideia de Cosmos (“o universo como ordem”, como um todo organizado, em oposição à desordem).
O fato é que há ordem no caos, o que nem sempre é perceptível. Nossa limitação de percepção é que “cria” o caos. Tudo é dito por um observador, afirmava Humberto Maturana.
Os pitagóricos achavam que, em cada ser e no universo inteiro, existe harmonia perfeita. Harmonia, entendida como aquilo que está em perfeita consonância com o cosmos.
Ora, tudo que está no Cosmos está sob suas leis, mesmo o que pareça dissonante; o caos, ou a vida, por exemplo.
Edgar Morin, percebendo os vínculos que uniam os fenômenos de auto-organização aos das interações (revelados por John von Neuman), propôs o tetragrama “ordem/ desordem/ interação/ auto-organização”.
Daí, pode-se conceber a comunicação como dialógica, regulada pela incerteza (tendência permanente ao caos e à desordem).
“O mundo é complexo e o que nele acontece também. Há muito tentamos lidar com a complexidade por meio de um modo de pensar superficial, mecanicista, quantitativo e supersimplificador que se origina da atenção deficiente. Atenção deficiente produz percepção deficiente, que retroage sobre ela e a realimenta. É nessa circularidade viciosa que temos vivido.” (Humberto Mariotti e Cristina Zauhy)
Então, para que o mundo seja mais generoso conosco, atendendo nossas preces, convém que lhe prestemos mais atenção, a começar pelos seres que nos rodeiam.
Sem mudarmos nossa atitude diante dos acontecimentos eles continuarão a nos parecer estranhos – e indiferentes às nossas pretensões.
Que olhemos além dos nossos umbigos; além do “eu” e do meu.
Erich Fromm se perguntava se o narcisismo está tão profundamente entranhado no ser humano a ponto de torná-lo incapaz de olhar para o mundo, acrescentam Mariotti e Zauhy.