
Tendo a acreditar que o perdão nos liberta dos grilhões do passado. Temos, também, que aprender a nos perdoar. O erro passado, irresponsável ou impensado, deve nos calejar, não deveria nos punir eternamente.
O erro acontece, muitas vezes, inconscientemente. Não é verdade que a razão nos conduz a todo momento. É raro, aliás.
O perdão conta. O arrependimento, também.
Em 1992, Rodney King, um homem negro, foi espancado quase até a morte por quatro policiais de Los Angeles.
Esses policiais foram absolvidos. Isso desencadeou uma revolta por seis dias. 57 pessoas morreram. Mais de 7 mil prédios foram incendiados.
Durante esses protestos, um motorista branco de caminhão foi brutalmente agredido. King se comoveu e fez um apelo: “Não podemos todos nos dar bem?”
A santa Josefina Bakhita (foto acima), nascida no Sudão, tem uma história de dor e sofrimento causada pela escravidão. Inspira movimentos que lutam contra a intolerância racial.
Nas palavras de João Paulo II, “Josefina foi escravizada e vendida como escrava com apenas sete anos de idade, sofreu muito nas mãos de patrões cruéis. Apesar disso, compreendeu a verdade profunda de que Deus, e não o homem, é o verdadeiro Patrão de todos os seres humanos, de cada vida humana.” Tornou-se a primeira santa africana.
Seu nome, Bakhita, ironicamente, que significa “afortunada”, “sortuda” ou “bem-aventurada”, não lhe foi dado ao nascer mas pelos raptores.
Bakhita se destacou pela piedade e amor a Cristo e pelo serviço social pelos demais pobres e desamparados. Só santos podem perdoar e se redirecionar ao amor, ao invés do ódio?
“Alegrai-vos e exultai” (Mt 5,12), diz Jesus aos que são perseguidos ou humilhados por causa dele. O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados.
Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa.” (Papa Francisco, “Gaudete et Exsultate”)
A santidade é exceção, a violência parece ser a regra.
Vejam Leo Auberg, o personagem criado por Herta Müller, que foi deportado para um campo de trabalho soviético. Ele que, durante cinco anos viveria uma experiência de horror e desumanidade.
Campo aqui não significava pureza, liberdade. Era horror e silêncio. Fome, miséria, torturas, doenças e morte.
Leo sobreviveu. Ao voltar, notou que sua família havia continuado a vida perfeitamente sem ele. Ele não fazia falta.
A ausência é algo com a qual logo nos acostumamos.
Aos que voltam à “vida” restam se reinventar.