
Vejo as notícias sobre Elon Musk, inevitáveis. O sujeito tem muito dinheiro, dizem que mais que qualquer outro.
Há muitos que o admiram como símbolo do sucesso, mérito, intrepidez, capitalismo, liberdade, visão de mundo e de futuro etc. Onde outros veem arrogância, dizem que é assertividade; não seria controverso, mas objetivo e lúcido acima dos normais, mostrando-nos caminhos.
Dinheiro parece não mais afetá-lo (sua fortuna foi reduzida em mais de US$ 100 bilhões neste ano – mas ainda restariam míseros US$ 170); nutre-se de atenção.
Inevitável não pensar no conceito grego de húbris, que representa “tudo que passa da medida”. Está associado a presunção, arrogância, insolência, orgulho excessivo.
Os gregos acreditavam que a húbris, assim como uma grande “prosperidade”, recebiam punições, pois os deuses eram invejosos.
Há aquela historinha de Heródoto sobre Polícrates. Pode não ter nenhuma relação com o personagem midiático acima, mas é uma historinha.
Em 540 a.C., Polícrates e seus dois irmãos deram um golpe e estabeleceram juntos uma tirania. Essa estrutura de poder não durou muito. Polícrates matou um e depois exilou o outro irmão, assumindo assim o poder total na ilha de Samos, no Mar Egeu.
“Aonde quer que se dirigisse para guerrear, era em tudo bem sucedido. (…) Atacava e saqueava a todos, sem fazer distinção de ninguém. Dizia que faria algo mais grato a um amigo restituindo-lhe o que lhe tomara, do que se nunca lhe tivesse roubado coisa nenhuma.” (Heródoto)
Tinha um aliado, Amásis, rei do Egito. Este, preocupado com as intermináveis vitórias de Polícrates, resolveu aconselha-lo.
Numa carta, recomendou que, para preservar a sua sorte, se afastasse do que lhe parecia mais precioso, pois “ (…) nunca ouvi ninguém dizer que depois de ter sido sempre feliz e em tudo, no final não caiu por terra com toda a sua primeira felicidade (…) ”.
Seguindo o conselho, o ganancioso tirano decide jogar no mar um anel precioso, que depois de alguns dias, ele recupera com surpresa das entranhas de um peixe que seus servos prepararam para o jantar.
Amásis, ao saber do episódio, “compreendeu que é impossível para um homem salvar outro homem daquilo que lhe deve acontecer, e que Polícrates, sendo bem-aventurado em tudo, um homem que reencontrava mesmo aquilo de que tentava se desfazer, estava destinado a não ter um bom fim”.
Bom, este triste fim aconteceu: o tirano caiu numa armadilha, foi preso e empalado.
Ah, o nome Polícrates significa, em grego, “muito poderoso”.