O país indesejado pelas elites

(Se hão houvéssemos resistido ao nazifascismo, como estaríamos?)

“As elites veem as eleições como oportunidades de manipular as pessoas e não como meios de ouvi-las.

Os Big Data tornaram os votos marginais como fontes de feedback, e os manifestantes preferem usar as eleições como ocasiões para demonstrações do que como instrumentos de mudança política.” (Zygmunt Bauman e Leônidas Donskins)

A democracia, em qualquer país ou época, nunca se mostra ideal. Mas, ela é uma experiência coletiva, como a própria sociedade. Nossos direitos, entretanto, não são, de fato, garantidos por nosso poder como votantes. Há um poder invisível que tudo manipula: o poder econômico, através dos menestréis políticos.

O sistema democrático é ilusório; achamos que temos o controle através do voto e das instituições, mas tudo é habilmente orientado para a manutenção do poder nas mãos das elites – que são as mesmas por gerações.

Ainda assim, é melhor manter esse faz-de-conta do que deixarmos que assuma um autoritário, que restrinja nossas frágeis liberdades em nome de ideologias.

“As ideologias são liberdade enquanto se fazem, opressão quando estão feitas.” (Jean-Paul Sartre)

A direita que entroncha o país é um resgate das ideias de Oliveira Vianna (1883-1951), que defendia que o liberalismo (político, não o econômico) europeu não fazia sentido para o Brasil porque ao brasileiro falta solidariedade social. Foi o pai, por aqui, do nacionalismo autoritário.

Defendia para nosso país o “elitismo” e o “corporativismo“. Essas ideias prevaleceram. Além disso, acreditava numa hierarquia de raças. Seria necessária uma “eugenia racial” no Brasil!

A esse conjunto chamava de “revolução conservadora”, ou “revolução burguesa retardada”. Retardada, na acepção de tempo, creio.

Atuou para que transformações sociais fossem rejeitadas; bastavam reformas cosméticas para se evitar mudanças estruturais, conforme o dito de Lampedusa. Sem meias palavras, queria que a classe dirigente se assumisse como classe dominante. Esse é o autoritarismo, que chegou em 1937 e, depois, como gostaram, em 1964.

Seu discurso, atraente até para os pobres, pregava a harmonia e a paz social – através, por exemplo, da organização do trabalho (CLT). Previa a criação de organismos superestruturais capazes de garantir a acumulação capitalista. A administração, o governo, não deveriam parecer “poder”.

Vianna sonhava com um outro país, sem mestiçagem – europeu.

Repercutia o prognóstico de Karl von Martius (1794-1868), contratado por concurso pela Corte para escrever uma nova história do e para o Brasil.

“Devia ser um ponto capital para o historiador reflexivo mostrar como no desenvolvimento sucessivo do Brasil se acham estabelecidas as condições para o ‘aperfeiçoamento’ das três raças humanas, que nesse país são colocadas uma ao lado da outra, de uma maneira desconhecida na história antiga, e que devem servir-se mutuamente de meio e fim.” (von Martius)

Segundo Lilia Moritz Schwarcz, ele usava a metáfora de um caudaloso rio, que corresponderia à herança portuguesa que acabaria por “limpar e absorver os pequenos confluentes das raças índia e etiópica (negros).

O processo? Os negros, escravizados; os indígenas, dizimados.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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