Sobre educação e fome. Sobre o quê?

(Paulo Freire, por Luiz Carlos Cappellano)

Em 1954, Roger Cousinet (1881-1973) falava: “A educação não pode mais ser uma ação exercida por um professor sobre os alunos, ação que se revelou ilusória; ela é, na realidade, uma atividade por meio da qual a criança trabalha seu próprio desenvolvimento, colocada em condições favoráveis e com o auxílio de um educador que é apenas um conselheiro pedagógico. Resulta que os métodos ativos são instrumentos, não de ensino, mas de aprendizagem. Esses instrumentos devem ser colocados exclusivamente nas mãos dos alunos, e quem os introduz na sua aula aceita não se servir dos mesmos e renuncia, por isso, a ensinar.”

Educar não é forçar a memorização; é estimular o raciocínio, a experiência, a descoberta.

O livro Pedagogia do oprimido, de Paulo Freire, foi publicado nos Estados Unidos, Uruguai, Itália, Alemanha e França e só depois chegou ao Brasil. Quando o escreveu, Freire teve receio de que o texto fosse confiscado por ser considerado “perigoso”. 

Por que seria perigoso? Porque, responde Freire, “a pedagogia dominante é a pedagogia das classes dominantes”. Os métodos da opressão não podem, contraditoriamente, servir à libertação do oprimido. Nessas sociedades, governadas pelos interesses de grupos, classes e nações dominantes, a “educação como prática da liberdade” postula, necessariamente, uma “pedagogia do oprimido”. Não pedagogia para ele, mas dele. Os caminhos da liberação são os do oprimido que se libera: ele não é coisa que se resgata, é sujeito que se deve autoconfigurar responsavelmente.

Educar não é reproduzir o servilismo; é estimular o espírito de cidadania, independência e autonomia.

Os conservadores odeiam o Patrono da Educação Brasileira. Por que será?

Ignoram que esse pernambucano foi o brasileiro mais homenageado da história, com 35 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades da Europa e da América.

O livro “Pedagogia do Oprimido” é o terceiro livro mais citado em trabalhos acadêmicos de ciências sociais em todo o mundo.

Ele, como John Dewey (1859-1952), defendia a unidade entre teoria e prática.

Dewey, observando o crescimento de seus filhos notou que não havia diferença na dinâmica da experiência de crianças e adultos: ambos são seres ativos que aprendem mediante o enfrentamento de situações problemáticas que surgem no curso de atividades que merecerem seu interesse.

Outro pernambucano, Josué de Castro (1908-1973), também é hostilizado pelos conservadores por seu trabalho que mostra as razões políticas e trágicas da fome. Josué foi indicado ao Nobel da Paz por quatro vezes.

Freire e Castro foram exilados durante a ditadura militar. Ambos tratavam das carências da maioria do povo brasileiro: aprendizagem (ao invés de formação) e proteínas.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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