
Ali Ahmad Said Esber é um poeta sírio. Adotou o pseudônimo de Adonis em referência a uma fábula fenícia que se irradiou na mitologia grega.
Na mitologia, Adonis atraiu o amor de Afrodite e de Perséfone. Problemas. Uma mulher só já requer atenção; duas desestabilizam. Vocês viram o debate de ontem.
Ares, amante de Afrodite e, Hades, marido de Perséfone, não gostaram. Zeus precisou por ordem nas coisas: decidiu que ele passaria 4 meses com cada uma e teria 4 livres, para seu proveito. Adonis tornou-se um símbolo do mistério da natureza: um deus da vegetação e da fertilidade, ligado ao ciclo de nascimentos, mortes e renascimentos.
Há umas arengas aí no meio, que deixo para os curiosos descobrirem.
O poeta Adonis trouxe para a cultura mulçumana essa dimensão mítica e pagã, unindo a literatura e o saber do Islã ao Ocidente.
Em 1956, mudou-se para Beirute, onde morou por vinte anos. O Líbano é, ainda, o país árabe mais aberto à cultura ocidental. Depois foi para Paris, onde vive.
Considerado o maior poeta árabe vivo, é um humanista combativo e um inimigo da religião enquanto ideologia.
Numa entrevista, em 2016, afirmou que “o Islã oficial nunca encorajou a poesia, nem a filosofia, nem as artes… porque não valoriza o eu, a subjetividade; é sempre a “Umma”, a comunidade, o grupo. Isso é que conta, não é o indivíduo. (…) eu acredito no ser humano, acredito no Homem. Mas as culturas monoteístas tornaram-se prisões contra a alegria, contra o corpo, contra a criatividade, contra tudo. O grande combate intelectual do mundo é saber como ultrapassar o monoteísmo e a sua cultura.”
Na Sombra das Coisas
Gosto de ficar na sombra das coisas
no segredo delas, gosto
de entranhar a criação
de vagar como as ideias
como a arte que se entranha
e, incerto, incauto
renasço a cada dia.
Canções para a morte
A morte quando passa por mim é como se
o silêncio a abafasse
é como se dormisse quando eu dormisse.
Ó mãos da morte, alonguem meu caminho
meu coração é presa do desconhecido,
alonguem meu caminho
quem sabe descubro a essência do impossível
e vejo o mundo ao meu redor.
Caminho
Caminho e atrás de mim caminham as estrelas
até seu próximo amanhã
o segredo, a morte, o que nasce, o cansaço
amortecem meus passos, avivam meu sangue.
Não iniciei a trilha, ainda
não vejo nenhum jazigo
caminho até mim mesmo, até
meu próximo amanhã
caminho e atrás de mim caminham as estrelas.
Folhas ao vento (excertos)
“Para dizer a verdade
mude seus passos, esteja pronto
para incendiar-se.”
“Um pouco de tédio
e cubro a todo instante
poças de esperança.”
“Brilhe, escreva um poema, ande:
amplie ainda mais a terra.”