“Incerto, incauto renasço a cada dia” (Adonis)

(Adonis, 92 anos)

Ali Ahmad Said Esber é um poeta sírio. Adotou o pseudônimo de Adonis em referência a uma fábula fenícia que se irradiou na mitologia grega.

Na mitologia, Adonis atraiu o amor de Afrodite e de Perséfone. Problemas. Uma mulher só já requer atenção; duas desestabilizam. Vocês viram o debate de ontem.

Ares, amante de Afrodite e, Hades, marido de Perséfone, não gostaram. Zeus precisou por ordem nas coisas: decidiu que ele passaria 4 meses com cada uma e teria 4 livres, para seu proveito. Adonis tornou-se um símbolo do mistério da natureza: um deus da vegetação e da fertilidade, ligado ao ciclo de nascimentos, mortes e renascimentos.

Há umas arengas aí no meio, que deixo para os curiosos descobrirem.

O poeta Adonis trouxe para a cultura mulçumana essa dimensão mítica e pagã, unindo a literatura e o saber do Islã ao Ocidente.

Em 1956, mudou-se para Beirute, onde morou por vinte anos. O Líbano é, ainda, o país árabe mais aberto à cultura ocidental. Depois foi para Paris, onde vive.

Considerado o maior poeta árabe vivo, é um humanista combativo e um inimigo da religião enquanto ideologia.

Numa entrevista, em 2016, afirmou que “o Islã oficial nunca encorajou a poesia, nem a filosofia, nem as artes… porque não valoriza o eu, a subjetividade; é sempre a “Umma”, a comunidade, o grupo. Isso é que conta, não é o indivíduo. (…) eu acredito no ser humano, acredito no Homem. Mas as culturas monoteístas tornaram-se prisões contra a alegria, contra o corpo, contra a criatividade, contra tudo. O grande combate intelectual do mundo é saber como ultrapassar o monoteísmo e a sua cultura.”

Na Sombra das Coisas    

Gosto de ficar na sombra das coisas
no segredo delas, gosto
de entranhar a criação
de vagar como as ideias
como a arte que se entranha
e, incerto, incauto
renasço a cada dia.

Canções para a morte

A morte quando passa por mim é como se

o silêncio a abafasse

é como se dormisse quando eu dormisse.

Ó mãos da morte, alonguem meu caminho

meu coração é presa do desconhecido,

alonguem meu caminho

quem sabe descubro a essência do impossível

e vejo o mundo ao meu redor.

Caminho

Caminho e atrás de mim caminham as estrelas

até seu próximo amanhã

o segredo, a morte, o que nasce, o cansaço

amortecem meus passos, avivam meu sangue.

Não iniciei a trilha, ainda

não vejo nenhum jazigo

caminho até mim mesmo, até

meu próximo amanhã

caminho e atrás de mim caminham as estrelas.

Folhas ao vento (excertos)

“Para dizer a verdade

mude seus passos, esteja pronto

para incendiar-se.”

“Um pouco de tédio

e cubro a todo instante

poças de esperança.”

“Brilhe, escreva um poema, ande:

amplie ainda mais a terra.”

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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