
O ódio não é um bom guia; ele cega! Mas é instintivo, mobiliza sem questionamentos. Por isso, os manipuladores tanto o propagam.
Causa-nos ódio quando algo que prezamos é atacado. Valores sociais julgados importantes são sitiados por grupos e depois, divulga-se que estão ameaçados. Aí a fera se manifesta.
Os valores mais comumente manipuláveis são os de sempre: pátria, família, propriedade e religião. O sangue da humanidade é regularmente vertido em decorrência de alguma ameaça a eles. Mesmo que a ameaça não exista, de fato.
Sim, porque a verdade – outro valor – não é investigada e, em seu lugar empossa-se a mentira oficial. A ignorância passa a ser uma bênção.
Galileu acreditava que um ignorante sempre poderia aprender algo a partir de sua ignorância. Isso é possível, para os que têm boa fé e humildade, atributos que o ódio remove. Poucos são os que desconfiam do conjunto de crenças que lhe foi enraizado.
O ódio precisa de divisões, fragmentações, desuniões, discórdias, aviltamentos, preconceitos, discriminações, realce e ataque às diferenças … tudo que não edifica!
Para isso caminhamos, levados por mãos populistas, que dão gargalhadas da nossa idiotice.
Odiar é abrir mão da cidadania; é passar pano nos desvios comportamentais e outros que tais “líderes” praticam. É a subserviência, a servidão voluntária anunciada por La Boétie.
“Paraíso e inferno já existem na Terra há milênios, mas nunca foi tão iminente o desaparecimento completo de um deles.” (Sidarta Ribeiro)
Há um crescente tribalismo, que gera solidariedade entre os que se parecem e se afinam nas ideias e agressão aos que são diferentes.
Sociedades complexas como as nossas requerem tolerância, alteridade, aceitação das diferentes etnias, religiões e direcionamentos políticos.
Aristóteles foi um dos primeiros a comentar esse distúrbio. O tribalismo, dizia, significa pensar que se sabe como as outras pessoas são sem conhecê-las; à falta de uma experiência direta dos outros, caímos em fantasias medrosas. É a prevalência do estereótipo, matéria prima da manipulação política.
Para escoar o sentimento de pertencimento que o tribalismo pressupõe há os esportes, as agremiações, os partidos, grupos identitários, associações de classe etc. Mas, a vida em sociedade requer cooperação e respeito mútuo.
O outro não é inimigo apenas por ser outro; isso é um retrocesso histórico. A vida em sociedade nos ensina que temos que lidar com pessoas que não gostamos ou que não entendemos. A rigor, até nas nossas famílias e, embora não admitamos, ocorre conosco mesmo.
A solução parece óbvia: a cooperação, mesmo que pragmática. Com ela, há uma troca em que as partes se beneficiam.
Muitos animais sabem fazer isso. Nós, humanos, temos uma dificuldade crescente. A cooperação que sempre se mantém é o chamado “conluio”, que ocorre entre grupos de bandidos, entre banqueiros e no meio político.