
Há menos diferença entre os animais que entre um homem e outro homem, dizia Plutarco. Claro, além da nossa base instintiva, temos uma carga cultural, imaginação, sonhos e pesadelos.
Porém, o humano é vaidoso e confunde, muitas das vezes, o ornamento como imagem do ser.
Como nunca é demais, resgato um trecho dos Ensaios de Montaigne que trata da “Desigualdade que Existe entre Nós”, sempre atual.
“Classificamos um cavalo pelo seu vigor e destreza, não pelos arreios que o adornam; um galgo pela sua corrida rápida, não por sua coleira que leva; por que não fazemos outro tanto com os homens, estimando-os apenas pelas qualidades que constituem a sua natureza?
Tal indivíduo leva uma vida suntuosa, é dono de um formoso palácio, dispõe de crédito e rendas, mas tudo isso está em seu redor, não dentro dele. (…)
Por que motivo, ao fixarmos a nossa atenção num homem o consideramos completamente envolto e empacotado?
Assim, apenas nos mostra as coisas que de forma alguma lhe pertencem, e oculta-nos aquelas pelas quais se pode julgar do seu valor.
É preciso julgar o homem por si mesmo, não pelos seus adornos nem pelo fausto que o rodeia. (…)
O pedestal não conta para a estátua …
Tem a alma tranquila, constante e serena? Isto é tudo quanto é indispensável considerar para se informar da extrema diferença que existe entre os homens.
Comparai esse homem com a turba estúpida, baixa, servil e volúvel, que flutua constantemente à mercê do sopro das múltiplas paixões que a empurram e repelem, e que depende por inteiro da vontade alheia …
O imperador cuja pompa vos deslumbra em público, olhai-o atrás do palco; não é mais que um homem como os outros, e por vezes mais vilão que o último dos seus súditos: a covardia, a irresolução, a ambição, o despeito, a inveja, agitam-no como a qualquer outro homem e, a intranquilidade e o temor dominam-no mesmo no meio dos seus exércitos. (…)
Que vale ou que significa toda a grandeza se é uma alma estúpida e grosseira?
Se uma pessoa é tonta, se seu gosto está pervertido e embrutecido, não consegue desfrutar os bens da fortuna.”