
Jurei absoluta fidelidade a mim mesmo, como fizera Nietzsche ao procurar suas próprias ideias, além das dominantes de então.
Para ele, não mais o impressionavam “nem as ideias feudais, nem as ideias dos democratas burgueses, nem o socialismo. Ao redor delas não existem mais que uma mescla informe de sentimentos, de estilos, de instituições e ideias pertencentes a todas as épocas da história: sentimentalidade patriarcal, orgulho feudal, quietude pequeno-burguesa, avidez e vulgaridade burguesas.”
Como tudo muda para ficar como sempre foi, lampedusamente, o patriarcado continua arraigado no machismo e é raiz do fascismo; o feudalismo atual reproduz-se nos oligopólios; e, a estabilidade/felicidade propiciadas pelo “sucesso” movem o consumo, motor do capitalismo.
A acentuação desses aspectos – amplificados pelas redes sociais – tem elevado os casos de angústias, mal-estar civilizatório e depressões.
“A angústia não engana”, dizia Lacan, mas a depressão é enganadora por excelência, a começar pelo diagnóstico entre depressão endógena ou neurótica.
Nosso amigo Freud, em 1930, procurava alertar que “em geral as pessoas usam medidas falsas, de que buscam poder, sucesso e riqueza para si mesmas e admiram aqueles que os têm, subestimando os autênticos valores da vida.”
As buscas loucas, erguidas como modelos pela sociedade atual, pelo “reconhecimento” público quer como empresário, funcionário, esportista, artista ou qualquer atividade; pelo sucesso e consequente consumo e ostentação de itens icônicos, têm nos levado à dissociação da realidade, de nós mesmos. É o preço da opção pelo regime obstinado de excelência, segundo Alain Ehrenberg.
O resultado: pessoas baratinadas, com síndromes de toda ordem, sentindo-se fracassadas, depressivas, propensas a aceitar soluções mágicas etc.
Kant dizia que “faltava ao homem sair de sua menoridade”. Menoridade porque não consegue sair de sua condição medíocre e tomar coragem de servir-se de si mesmo, sem necessitar da ajuda de alheios.
Os outros não são espelhos. Deixemos-lhes. Procuremos o que nos convém. Sem aflição, sem supostas cobranças, só as nossas, fundadas nas nossas capacidades e aspirações.
Repito: “Jurei absoluta fidelidade a mim mesmo”. E o resto, dane-se! Não sofrer as “dores” dos outros é o Norte. Se há felicidade, esta é estar bem consigo mesmo.
Não estou sugerindo que não se tenha horizontes. Não estou sugerindo a modorrenta rotina, que entorpece. Digo que a vida é única, específica, e portanto cabe a cada um de nós fazê-la ao nosso feitio.
Felicidade é uma ilusão; viver deve ser suficiente, desde que nos contentemos.
A vida não tem finalidade a não ser vivê-la do nosso jeito. Esse é seu valor. A ideia de uma finalidade na vida existe em função das religiões.
Voltando a Freud: “A vida, tal como nos coube, é muito difícil para nós, traz demasiadas dores, decepções, tarefas insolúveis. Para suportá-las, não podemos dispensar paliativos: poderosas diversões, que nos permitem fazer pouco de nossa miséria, gratificações substitutivas, que as diminuem, e substâncias inebriantes, que nos tornam insensíveis a ela.”
“Nada é mais difícil de suportar do que uma série de dias belos.” (Goethe)
Nós queremos o impossível: a felicidade perene e a ausência de dor e desprazer. Não existe! Bastemo-nos!