
O poeta inglês William Henley teve uma vida difícil, salteada de perdas. Aos doze anos de idade teve uma artrite causada pelo bacilo da tuberculose, o que levou à amputação da perna esquerda, aos dezesseis anos. Pouco depois, perdeu o pai e tornou-se arrimo da família.
Dentre seus poemas, Invictus, de 1888, é um dos mais conhecidos. Supostamente, teria encouraçado Nelson Mandela durante seus 27 anos na prisão e mantido sua sanidade mental.
Entretanto, um mesmo símbolo, lema ou bandeira pode guiar santos e loucos. O bom ou ruim depende da intenção que o move.
Timothy James McVeigh, que perpetrou o atentado de Oklahoma City, em 1995, que matou 168 pessoas e feriu mais de 680, também se balizava pelo poema Invictus, e o escolheu como sua declaração final, na sua execução por injeção letal, em 2001.
Invictus (William Ernest Henley)
Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu – eterno e espesso,
A qualquer deus – se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei – e ainda trago
Minha cabeça – embora em sangue – ereta.Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.Por ser estreita a senda – eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.”(Tradução de André C. S. Masini, publicada no livro “Pequena Coletânea de Poesias de Língua Inglesa”)
A poesia nos eleva, pro bem ou pro mal. Mas é a forma como a alma canta.
Ela se exprime de todas as formas; a própria vida é uma de suas manifestações, embora poucos consigam perceber.
Os Justos (Jorge Luís Borges)
“Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um xadrez silencioso.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que leem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.”