Palavras matam!

(Adama Dieng)

“Nós todos temos de lembrar que crimes de ódio são precedidos por discurso de ódio.

Todos temos de lembrar que o genocídio dos Tutsis em Ruanda começou com discurso de ódio.

O holocausto não começou com as câmaras de gás. Ele começou muito antes, com discurso de ódio.

O que temos visto em Mianmar contra o povo Rohingya também começou com discurso de ódio.

E hoje, o que temos testemunhado por esse mundo, com a ascensão dos extremistas, estejam eles na Europa, estejam eles na Ásia, em todos os lugares, quando vemos o crescente número de grupos neonazistas, grupos neofascistas, quando nós vemos a maneira como migrantes e refugiados estão sendo humilhados!

Precisamos, portanto, fazer todos os esforços para lidar com esse discurso de ódio.

Nós temos de ter em mente, então, que palavras matam. Palavras matam como balas.

E é por isso que nós precisamos fazer todos os esforços para investir em educação, para investir na juventude, para que a próxima geração entenda a importância em se viver juntos em paz.

Precisamos fazer todos os esforços para que os ataques, como o testemunhado no Sri Lanka, quando igrejas foram atacadas; como aquele que testemunhamos na Nova Zelândia; como o que vimos em Pittsburgh.

Tudo isso precisa parar.

E, para parar isso, nós precisamos investir mais na mobilização da juventude.

Nós precisamos usar o verbo para que se torne uma ferramenta para a paz, uma ferramenta para o amor, uma ferramenta para aumentar a coesão social, harmonia no nosso mundo ao invés de ser uma ferramenta para cometer genocídio, crimes contra a humanidade.” (Adama Dieng)

Não é possível permitir que seres humanos sejam mortos por qualquer razão, principalmente por causa de suas identidades, religiões, preferências sexuais, cor da pele, ou escolhas políticas.

A intolerância é o grande vírus da humanidade, o que mais mata.

O contágio se dá pela palavra, pelos discursos com os quais nos identificamos, a partir de nossas indignações.

Edgar Morin diz que “Podemos pedir aos crentes que se tornem neocrentes”. Não insinua que se tornem não-crentes, mas que desconfiem de certos mitos. Se você desconhece o funcionamento dos mitos, será manipulado por eles. Os mitos são parte da realidade; não são a realidade!

Na Antiguidade dizia-se que “os deuses eram reis porque os homens tinham reis”. Sabemos, hoje, que reis não são necessários, e que Deus é outra coisa, não rei.

Jesus, entretanto, para alguns cristãos, é o rei do Reino de paz e justiça no meio do povo. Para outros, manipuladores, Jesus falava literalmente, não parabolicamente, ao afirmar, segundo Mateus (34, 11), “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada.”

Esses usurpadores da palavra, hoje, insinuam que  “Jesus não comprou uma pistola porque não tinha na época em que viveu”. 

Tudo como pano de fundo de um suposto “mundo e valores sob ataque” pelo que deve-se ficar armado e atacar os que são essa ameaça. É o anticristianismo na prática.

Tolerância zero! Matemos antes que os inimigos nos subordinem! Aceitamos, até, sermos subordinados aos nossos guias, mitos!

O ódio é o alimento desse movimento. O ódio parece mais forte que o amor, segundo Santo Agostinho: “Não há ninguém que não fuja da dor mais do que deseja o prazer.”

A política atual está impregnada de ódio, que nunca teve tamanha capacidade de infiltração antes das redes sociais.

As pessoas se dividem – bons e maus, amigos e inimigos, esquerda e direita, conservadores e progressistas – e se hostilizam. Eis o palco da futura guerra civil.

Os que não se engajam nessa guerra estúpida, fraticida, mas que bate à nossa porta, são chamados de idiotas.

Idiotas, no sentido da Grécia clássica (idiotés): aquele que não participava dos assuntos públicos e preferia dedicar-se unicamente aos seus interesses privados.

Os muito ricos podem continuar indiferentes, idiotas, à situação política vigente; eles são e serão os beneficiados, independentemente de quem prevaleça na planície.

“Não resta nenhuma outra causa a não ser a mais antiga de todas, a única, de fato, que desde o início de nossa história determinou a própria existência da política: a causa da liberdade em oposição à tirania.” (Hannah Arendt)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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