
“O problema, praticamente insolúvel, consiste em não se deixar imbecilizar nem pelo poder dos outros nem pela própria impotência.” (Theodor W. Adorno)
Os “cidadãos de bem” que apoiam este governo já devem saber que Adorno era um crítico do fascismo e, portanto, podem parar a leitura por aqui, para não ficarem tentados a pensar.
Pensar não combina com o fascismo; o discurso deve ser único, aquele divulgado pelos mentores encastelados em Brasília – tudo pago com nossos impostos. Esses agentes goebbelianos sabem que uma comunicação em massa pode levar uma sociedade a aceitar uma ideia – qualquer – como correta e indiscutivelmente única.
Quem quer que discorde do discurso oficial perde o direito de ser considerado seguidor da seita que se alimenta do ódio, da discórdia, da desconfiança, do ressentimento, do medo de perder o que não se tem etc. e, torna-se traidor, inimigo. A ser eliminado.
Esses profissionais da mentira contam com a “boa vontade” – incrível!- de pessoas inteligentes (médicos, engenheiros, CEOs …) que rebolam para “justificar”, “explicar”, as contradições, desumanidades, reviravoltas no dizer e fazer do líder, bobagens, absurdos, insultos, discriminações, e, principalmente, a falta de orientação para o país sair do buraco que prometeram fechar.
Pessoas que se dizem cristãs defendem a tortura, a morte, a estigmatização dos pobres (são pobres porque não se esforçam na vida!), dos negros (cotas, para que? Por que não se habilitam como os brancos?), a tutela e inferiorização das mulheres, a discriminação regional, o uso de armas (para a autodefesa, claro), o crescente estímulo à formação de milícias – como se não pagássemos para manter as polícias, a destruição da natureza e das populações originárias (que impedem o progresso rs) …
Desisti de tentar argumentar com esses apóstolos do restabelecimento da ordem – passando pelo caos -; eles não escutam. Não que eu tenha a verdade, não tenho. Mas, de uma discussão (no bom sentido) pode sair alguma luz. A defesa que fazem de “seus” pontos de vista são reverberações da doutrina recebida. Todos falam a mesma coisa!
Estou cansado de ser chamado de comunista, petista, lulista, entreguista … E, não sou nada disso. Preocupo-me com mais uma geração perdida, com a fome disseminada, a justiça para poucos, o desemprego, a desigualdade absurda, a perpetuação das castas econômicas, com a intenção do retorno da ditadura, o desmantelamento das instituições – ao invés de seus aprimoramentos -, a criminalização da política (ao invés de sabidos políticos) e o desgaste do conceito de democracia …
Os ricos não ojerizam a pobreza, simplesmente a ignoram; os de classe média, sim, odeiam os pobres, talvez com medo de decaírem.
Os ricos não temem a ditadura; eles se dão bem em qualquer regime. Os que não têm a imunidade do dinheiro acham que estarão blindados porque a defenderam. Não conhecem a história. Os ditadores não olham com ternura para os que os defenderam, só para os que lhe dão o apoio de que necessitam no momento.
Não me preocupo com esses iludidos; o que me angustia é ver nosso Brasil esfacelado, perdendo – novamente – o voo da história.
Criam-se temores infundados. O medo não leva à frente, mas à fuga. Fuga, principalmente, da realidade.
O país se desindustrializa e aparecem ufanistas do agronegócio. O desmatamento ameaça nosso equilíbrio pluvial, a possibilidade de savanização da Amazônia, a desertificação de áreas agrícolas do Cerrado, a aceleração dos extremos climáticos e, aparecem defensores da mineração. Cortam os recursos de investimentos em Ciência e Tecnologia e surgem as justificativas, embora não reduzam o orçamento “secreto” dos apoiadores no Congresso. A cultura é espezinhada como se não fosse essencial para a formação do éthos nacional, além de gerar trabalho para mais de 5 milhões de pessoas.
Bom, “a ideologia nunca se foi, o que retorna são os confrontos ideológicos ou, se quisermos dar outro nome, a luta pela hegemonia”, diz Josep Ramoneda.
Nós somos as buchas de canhão dos interesses dos políticos.
Nossa indignação com as próprias incompetências dos governos é manipulada para mantê-los no poder. Como somos tolos.
Um texto a ser lido, todo santo dia, em voz alta, em todas as escolas de imenso e cansado Brasil, até que despertemos deste transe que nos prende à miséria, à ignorância, ao sectarismo – lato sensu – e condena, como a nossa, as futuras gerações.
Obrigado meu caríssimo Sr. Dorgival por repartir conosco sua lucidez e seu inconformismo.
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